A palavra resenha vem sendo empregada como gíria. “O cara tava na resenha” significa que o sujeito estava sendo piadista, tirando onda. Um encontro descontraído com amigos, no qual se conversa e todos se divertem, é fazer uma resenha com a turma.
Antes da popularização desse sentido, resenha era, e é ainda, um texto com uma breve análise sobre um outro texto. Mais comumente, se emprega o termo para nomear um comentário sobre uma obra literária.
Nei Duclós, além de ser um excelente poeta, é também um ótimo resenhista. Dedicou-se a esse ofício durante muitos anos na imprensa nacional. Como se não bastasse, escreveu por conta própria outras tantas resenhas sobre diversos autores, publicadas no seu blog Outubro.
Outro dia, Duclós comentou no Facebook que havia lançado três e-books com sua produção de poesia veiculada nas redes e ninguém se habilitou a escrever sequer uma resenha. Por um lado, esse fato pode apontar para uma possível falta de atenção às publicações em e-book. Por outro, ao próprio modo de se opinar sobre as obras de arte hoje.
Não mais está apenas nas mãos do jornalista, ou do professor de literatura, do estudioso na universidade, a tarefa de falar sobre a recepção de um texto. Há pessoas que compartilham um poema de um autor de que gostam, fazem um vídeo, um cartão com uma arte, ou simplesmente usam um ícone de legal, um coração, uma figurinha. A resenha se resume a um comentário de uma única palavra, normalmente um adjetivo.
É melhor? É pior? São formas de mostrar que a comunicação está acontecendo. Uma resenha bem escrita, que mostra uma leitura atenta, que percebe o projeto estético da obra, que estabelece relações com outros textos, que amplia nossa leitura é uma grande contribuição. E receber a breve interlocução de um comentário na caixa abaixo do texto nas redes também tem seu valor. Nei Duclós seguidamente recebe uma chuva de likes para seus poemas no face.
Um dos e-books a que ele se referiu tem o título de Semeador. Pode ser comprado na Amazon. Eu tenho o meu. Olha só o que o poeta fala sobre o “Sentido”: “Não importa a escolha das palavras,/o conteúdo do verso,/a propriedade da fala.//Importa a sonoridade,/que inclui a sua ruptura.//Sílabas afins revelam o sentido/submerso na intenção explícita./Compõem o inaudito,/geram permanência.//A poesia é tão misteriosa/quanto a existência de uma flor.”
Na poesia de Duclós importa sim a sonoridade, com seu hábil manejo do ritmo, da métrica, dos acentos, das rimas soantes e toantes. Importam as imagens, as metáforas. E também o sentido, que vem sempre num misto de música e espanto: “sou o falcão no ombro da princesa”; “despertamos Deus em sua sesta”.
Sejam veiculados numa postagem nas redes, num blog, num e-book ou num livro físico, são sempre poemas que “geram permanência”. Leia Nei Duclós e faça a sua resenha.
Foto da Capa: Naná Monteiro | Divulgação
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