Algumas pessoas colocaram no Instagram e no Facebook um adesivo que está pelas ruas com a frase “Saudade da Ipanema”. É uma referência à rádio sediada em Porto Alegre que ocupava a frequência 94.9.
O adesivo tem o último logo dessa emissora que pertencia ao grupo Bandeirantes, com atuação de 1983 a 2015. A logomarca destacava a letra n e foi criada pela Nova Forma, agência de publicidade do também saudoso Roberto Pintaúde.
Li recentemente uma pesquisa de consumo de meios de comunicação e hábitos de mídia. Das grandes mídias de massa nascidas antes da internet, apenas o meio rádio permanece com número estável de audiência. No entanto, fora a FM Cultura, a maioria das emissoras por aqui tem uma programação regida pelo padrão comercial do mercado musical.
Mesmo num mundo de opções bem mais amplas de lançamentos, como se pode ouvir e descobrir navegando pelo Youtube, pelo Spotify, entre outras plataformas, o set list das rádios ou repete os sucessos consagrados dos últimos quarenta anos ou mais, ou o que o marketing das grandes gravadoras que ainda existem faz chegar até os programadores.
A Ipanema tinha um outro padrão. Fazia questão de não tocar somente as chamadas músicas de trabalho. Vi há pouco uma entrevista do Eduardo Santos, que dirigiu já na fase mais final a emissora. Foi no programa da UBC chamado Papo com Clê, no Youtube. O Edu disse, brincando com o jargão da indústria do disco, que todas as músicas deram trabalho para serem produzidas. A rádio tocava as faixas que achava legais nos álbuns. Poderiam ser várias e talvez nem seria a tal de trabalho recomendada pela gravadora.
A Ipanema era também uma rádio aberta à cena local. Subimos o morro Santo Antônio no Partenon várias vezes pra levar as músicas das bandas que tive. Fita k7 com músicas da banda OS 3 Poetas, formada por mim, pelo Ricardo Portugal e pelo Alexandre Brito. Cd com músicas da banda Os Ladinos, formada por mim, Rafael Merel, Cado Botega, Rogério Gil, Marcelo Figueiredo e Turi. Até aí foram produções totalmente independentes. A gente gravava num estúdio, mixava e levava na rádio. Sempre tocaram, demos entrevistas, noticiaram e ajudaram a divulgar nossos shows.
Depois, nos anos dois mil, fizemos a banda os poETs, comigo, o Alexandre Brito e o Ronald Augusto. Fomos lançados pela gravadora YB, de São Paulo. Cd bonitaço! Tocaram também várias canções na Ipanema FM. Depois veio o segundo Cd dos poETs, que saiu pela Loop Discos. Onde rodou bastante? Na Ipanema.
Agora, com o meu trabalho Ricardo Silvestrin & Banda, que já está em fase de mixagem do segundo álbum, com doze composições inéditas, eu digo como no adesivo: saudade da Ipanema.
Foto da Capa: Facebook Relicário do Rock Gaúcho