Mais de 45 milhões de pessoas, dos 212 milhões de brasileiros (ou 215 milhões, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE), têm algum tipo de deficiência. Não é pouco! Mas nosso país ainda não reconhece a diversidade do seu povo como deveria. E tudo piorou muito nos últimos anos. Quem sabe efetivamente que temos uma Lei de Acessibilidade e Inclusão e direitos garantidos pela Constituição?
A visão capacitista permeia os ambientes e ainda somos vistos como seres inferiores ou menos capazes que os demais. No âmbito das políticas públicas somos alvos de discursos cheios de promessas, especialmente em períodos eleitorais, mas caímos no esquecimento assim que os vencedores assumem. E raramente as propostas são colocadas em prática. Se observarmos com atenção os espaços de trabalho e de lazer, a conclusão será óbvia: avançamos quase nada.
Mas o que é CAPACITISMO mesmo?
Minha escrita hoje é inspirada em um texto de 2019 de Carla Abreu, uma amiga de Pernambuco, analista judiciária, que também tem nanismo e é uma mulher muito lúcida.
Para Carla, políticas de inclusão e acessibilidade são fundamentais para encararmos nossas limitações, sermos independentes e vivermos com tranquilidade. Mas quando o capacitismo fala mais alto, é bom ficarmos atentos.
O termo capacitismo é uma tradução da palavra inglesa Ableism e está muito ligado à corponormatividade ou à padronização dos corpos. Parte de um modelo já dado e aceito, centrado na hierarquização, voltado para a funcionalidade do corpo em relação aos modelos massificados de produção. É quando a sociedade não vê outras maneiras de realizar uma determinada tarefa, por exemplo, que não seja através de uma opressão ativa, com xingamentos e exclusão, ou passiva, quando se coloca a condição da pessoa com deficiência como ruim, gerando pena, inferioridade, constrangimento. Facilitar a vida de uma pessoa com algum problema para quê?
A seguir, algumas manifestações e formas de CAPACITISMO que, de um modo geral, estão no nosso cotidiano, segregam e humilham.
- Quando perguntam para uma pessoa com deficiência: “Mas você trabalha?”.
- Quando pensam e verbalizam: “Coitadinha, no lugar dela eu não sei se dava conta”.
- Quando, em uma festa, alguém se dirige a uma pessoa com deficiência e diz, na linha estímulo, “parabéns por você estar aqui”.
- Quando, também em uma festa, alguém comenta ao ver uma pessoa com deficiência dançando ou cantando: “Não sabia que ela gostava de se divertir”.
- Quando, em uma loja ou restaurante, fazem perguntas para alguém que acompanha uma pessoa com deficiência, mas não se dirigem a ela.
- Quando, por exemplo, me chamam de anã e fazem uma piada.
- Quando dizem que a pessoa com deficiência é especial ou modelo de superação.
- Quando querem reforçar a autoestima de alguém e dizem: “Você está reclamando da vida, imagine se você fosse aquela pessoa,” e apontam para alguém com deficiência.
- Quando excluem a pessoa com deficiência em razão da sua condição.
- Quando só vemos um diagnóstico e não consideramos que aquela condição demanda enfrentamentos diversos, mas não impede que a vida seja plena.
As pessoas com deficiência têm uma forma de viver que foge ao padrão social ao qual estamos acostumados, mas não são coitadas, nem super-heróis. Os enfrentamentos e as demandas são difíceis por conta de olhares que não conseguem acolher um modo de estar no mundo que é diferente da maioria. Se você já agiu assim, segue uma dica: veja somente a pessoa e converse com ela com naturalidade.
Nós humanos somos seres em falta. Se todos entendessem que a falta nos constitui, a vida seria bem mais fácil!