Capacitismo: esse foi o tema de uma coluna que escrevi no final do mês passado. Contei algumas situações que presenciei ou que me foram relatadas. Recebi muitas mensagens de pessoas com relatos bastante semelhantes de leitores que se identificaram com o texto.
Falei de duas situações corriqueiras na vida das pessoas com deficiência: a invisibilidade e a infantilização.
A Cristina, uma amiga com baixa visão, portanto, com deficiência visual, me contou da noite em que saiu para jantar com 3 colegas cegos após um dia de reuniões com entidades e pessoas ligadas à causa. Ao sentar à mesa, o garçom perguntou para ela: “O que eles vão querer beber?”. “Eles” eram as 3 pessoas cegas que estavam presentes.
Sem perder o bom humor, um dos cegos presentes falou:
“- Você pode dizer pra ele que eu gostaria de saber o que tem pra beber?”.
Aí, ela perguntava:
“-Moço, ele quer saber o que tem pra beber.”
Após a explicação, o cliente cego disse: “- Você pode dizer pra ele que eu gostaria de suco de laranja?” Isso foi se repetindo até que os garçons se deram conta que deveriam falar diretamente com os próprios clientes.
Etapa vencida, foram ao caixa fazer o pagamento. Minha colega cercada por dois homens cegos que disputavam quem pagaria a conta. Porém, a funcionária do caixa só falou com a pessoa que enxergava, mesmo que estivesse claro que não seria ela quem pagaria a conta.
Aí, depois de todo bom humor, ela não se aguentou:
“- Moça: fala com eles! São cegos, eles estão ouvindo tudo que você fala.”
De fato, mais de uma vez ouvi reclamações de pessoas com deficiência visual que os outros falam gritando com eles!
Mas a invisibilidade não atinge somente as pessoas com deficiência, como mostra essa outra mensagem que recebi:
“Não sei se cabe a palavra capacitismo, mas não deixa de ser a mesma atitude. Quando estou com minha mãe, uma idosa de 75 anos, ninguém explica nada a ela. Ela faz uma pergunta, olham pra mim e respondem como se ela não entendesse o que está sendo dito. A maioria das pessoas tratam idosos como se fossem crianças menores de 5 anos.”
Elaine isso tem nome, sim: etarismo ou idadismo. Tem gente também que chama somente de “preconceito etário”: o estereótipo, o preconceito e a discriminação contra as pessoas com base em sua idade.
Karen Farias explica melhor o conceito em coluna aqui na SLER, lembrando ainda que o idadismo impacta negativamente na qualidade de vida das pessoas idosas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS):
“O preconceito (etário) é generalizado e uma prática insidiosa que tem efeitos prejudiciais à saúde dos idosos. Para os idosos, o preconceito etário é um desafio cotidiano que os afasta do mercado de trabalho e dos serviços sociais e os mostra estereotipados na mídia. O preconceito leva à marginalização e à exclusão dos idosos em suas comunidades.”
Marlise Brenol, em coluna aqui na SLER deu a dica: “O etarismo é culpa dos velhos parâmetros sobre os quais construímos a vida em sociedade.”
O etarismo leva a outra situação em comum com as pessoas com deficiência: a infantilização.
O meu amigo e leitor Felipe me contou de uma pessoa próxima, chegando perto dos 90 anos. Mesmo sendo bastante ativo, inclusive ainda trabalhando, não escapa de ser tratado de forma infantil.
Estamos tão acostumados com o capacitismo e o idadismo que acabamos caindo neles, muitas vezes sem perceber. E, como lembra a campanha promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania com outras instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz):
“Combata o Capacitismo – Respeite o Protagonismo das Pessoas
Dirija-se à pessoa com deficiência quando quiser solicitar alguma informação. Não use diminutivos ou voz infantilizada para falar com a pessoa com deficiência. Não reduza a pessoa a estereótipos. Não Infantilize Pessoas com Deficiência.”
#ficaadica
Foto da Capa: Freepik