Prezadas e prezados.
Me refiro à turba que, no dia 8 de janeiro deste ano, incitada por irresponsáveis e incompetentes populistas, depredou as sedes dos três poderes. Com a criação da CPMI dos Atos Antidemocráticos, que eu prefiro chamar de CPMI do Vandalismo, essa gente volta a ocupar tempo e espaço que deveriam ser gastos em debates sobre desemprego, fome, violência, sobre as falhas do nosso sistema de ensino e da rede de assistência à saúde… problemas, aliás, que fazem crescer a vulnerabilidade de grande parte da população às manipulações e delírios autoritários dessa extrema direita que se imagina maior do que é.
Notícias a respeito deles deveriam ser confinadas aos pés de páginas dos jornais e revistas, à terceira, ou quarta tela das plataformas de notícias e não deveriam merecer mais que notinhas de 10 segundos nos telejornais e radiojornais. Mas isso seria remar contra a maré, ou nadar de poncho contra a correnteza, como se diz lá pros lados das barrancas do Rio Uruguai. Então, o jeito é trabalhar para expor quem armou a mão do cidadão para quebrar o relógio de D. João VI, quem incitou outro a rasgar, a facadas, o quadro de Di Cavalcanti.
O que houve no 8 de janeiro já é bem sabido. Esta CPMI do Vandalismo não precisa investigar o que aconteceu. Tem que identificar – e punir – quem fez acontecer. Com o cuidado de mostrar que, longe de serem líderes de algum movimento com qualquer viés político, não passam de incitadores de ódio. Melhor seria reduzi-los à condição de aproveitadores da onda de desinformação – criada por eles mesmos, com suas fake news e mensagens de ódio – e tratá-los como vândalos que são, a destruir prédios e tentar desqualificar instituições.
Conscientes da própria incompetência para gerir o País – como ficou demonstrado na gestão passada – e sem perspectiva de volta ao poder, trabalham para manter a todos sob um certo domínio do medo.
Não duvidem. Vão tentar fazer da CPMI palco para suas fake performances. Mas não conseguirão. É claro que não dá para cercear-lhes o direito de dizer o que bem entendem. Mas não se pode – nem temos direito – simplesmente abrir e fechar aspas para eles. A cobertura jornalística da comissão de inquérito tem que soar aos ouvidos deles como vaias da plateia.
Enquanto não vem a Lei Brasileira de Reponsabilidade, Liberdade e Transparência da Internet, apelidada de Lei das Fake News, cabe a pauteiros, chefes de reportagem, comentaristas, repórteres e editores, estabelecer limites aos extremistas que tentam vandalizar as instituições espalhando falsidades e incitando ao ódio pelas plataformas virtuais.
Aliás, quero usar aqui, dois advérbios que foram causa de disputa na elaboração do PL das Fake News. Evangélicos, sob a alegação de que poderiam ser impedidos de citar passagens bíblicas, exigiram que, em vez de determinar que as plataformas ajam preventivamente contra conteúdos ilegais, o texto estabeleça que as empresas atuem diligentemente para evitar ilegalidades.
Na cobertura da comissão, que eu prefiro chamar de CPMI do Vandalismo, o jornalismo vai ser exercido diligente e preventivamente contra os discursos preconceituosos e autoritários desses poucos que sonham em meter medo na imensa maioria democrática. Boa cobertura.
Foto da Capa: Marcelo Camargo / Agência Brasil