A recente demolição da casa pertencente à família do escritor Caio Fernando Abreu trouxe de volta a discussão sobre a importância das homenagens e da preservação da memória de uma cidade. É um tema que me interessa bastante. Pegando de forma específica essa casa, acredito que o barulho foi exagerado.
Em primeiro lugar, antes de qualquer intervenção possível do poder público, a decisão de colocar abaixo partiu da família, que se desfez da casa e, ao que consta, não vem se manifestando. Só eles podem explicar seus motivos. Mas, noto ainda, que a casa do Menino Deus não foi um imóvel importante na vida e na obra de Caio, opinião que tenho e que é compartilhada por Maria Clara Jorge, a Cacaia, amiga e ex-companheira do escritor, que garante que Caio – que ali passou menos de dois anos da parte final de sua vida – ficaria mais grato se recebesse outras homenagens: seu nome num teatro, numa biblioteca, numa praça ou numa rua.
E aí entro numa questão mais delicada e, por isso mesmo, mais complicada.
Porto Alegre – sempre tão rica em escolhas equivocadas de nomes de seus logradouros – tem uma capacidade infinita de surpreender, quase sempre negativamente. Há pouco mais de um ano, nem bem havia sido divulgada a morte de Jaime Lerner, arquiteto, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, e já havia um movimento para que seu nome fosse dado a uma das mais nobres, novas e belas regiões da Capital gaúcha.
A homenagem – tão imediata quanto exagerada – mais uma vez desprezava a memória da cidade, em especial seus personagens. Dois exemplos gigantescos me ocorrem, de duas figuras com grande identificação com a cidade e com o Estado, que não mereceram a mesma agilidade e dimensão.
O primeiro é Leonel Brizola, ex-prefeito, ex-governador gaúcho (também do Rio de Janeiro por duas vezes) e líder político de um movimento de alcance nacional, a Legalidade. Pois bem, Brizola batiza apenas um viaduto, local que não faz jus à grandeza de sua figura.
O mesmo ocorre com Ildo Meneghetti, também ex-prefeito, também ex-governador (o único a ocupar duas vezes o cargo nos últimos 100 anos) e patrono do maior clube do Sistema Solar, que é lembrado de maneira tímida, batizando um logradouro que poucos de seus conterrâneos seriam capazes de identificar.
Poderia citar outros exemplos entre políticos (Paulo Brossard, Synval Guazzelli, Luis Carlos Prestes), empresários (Breno Caldas) e pessoas da vida cultural (Elis Regina, Josué Guimarães, José Lewgoy, Walmor Chagas, o já lembrado Caio), além de dezenas de jornalistas, comunicadores, ex-vereadores e artistas que igualmente mereceriam maior reconhecimento.
Mais: se for para ficar apenas nas características de Lerner, poderia lembrar de um arquiteto muito mais importante, Oscar Niemeyer, que não batiza nenhum logradouro. Se for para ficar na de líder político, rapidamente me ocorrem os nomes de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Cordeiro de Farias (este gaúcho), Teotônio Vilela e Miguel Arraes. Todos deveriam estar à frente do político paranaense.
Ah, mas se o critério for o fato de ser paranaense, tenho outro nome a indicar: Paulo Leminski.