Faz tempo que torcidas organizadas passaram a ser um poder paralelo dentro dos clubes. Em São Paulo isso é ainda mais forte, especialmente no Corinthians, muitas vezes com um comando paralelo da Gaviões da Fiel. Atos criminosos, ameaças e agressões estão se tornando comuns entre torcedores e jogadores. Semana passada, o ex-jogador do Grêmio e hoje no Corinthians, Luan, foi a vítima.
Luan está afastado dos treinamentos da equipe de Luxemburgo. Dentro de campo, nunca conseguiu corresponder ao investimento de sua contratação. Craque da Libertadores 2017, quando comandou o Grêmio de Renato ao tricampeonato, perdeu o foco e o caráter competitivo. Tentou recuperar no Corinthians, acabou emprestado ao Santos onde também fracassou. Mas as atuações descomprometidas não dão direito a ninguém de invadir um motel na capital paulista, onde ele estava numa festinha com garotas e amigos. Foi agredido e intimidado por cerca de sete pessoas que inclusive gritavam cantos da Gaviões. Nada justifica ou atenua as agressões cometidas por este grupo.
O episódio com Luan é mais um na estatística de intimidações que jogadores precisam conviver. Há também ameaças graves em redes sociais e de forma privada. Edenílson, enquanto jogador do Inter, viveu isso no ano passado. E, em 2021, um grupo de torcedores invadiu o CT do Grêmio e arremessou pedras e paus que atingiram veículos dos funcionários. Uma evidente tentativa de intimidação.
O futebol não pode conviver passivamente com este tipo de agressão. Sejam pedradas em ônibus ou jogadores adversários sejam agressões e ameaças a jogadores do próprio time. O crime é o mesmo e precisa punição severa. O que dá o direito de um cidadão desferir um soco contra o outro porque este não está jogando bem? Ou o direito de arremessar uma pedra contra um atleta que veste a camisa de outra equipe? Estamos convivendo normalmente com estes atos, que viram rodapé de página de jornal, muito abaixo do resultado do jogo.
Precisamos que alguém perca a vida ou sofra sequelas irreversíveis? Dirigentes de clubes continuarão aceitando isso? E os jogadores? Confortam-se porque Luan, por exemplo, está afastado do elenco? Se nada for feito de forma drástica, as ditas torcidas organizadas continuarão com este poder até que tenhamos uma tragédia. Funcionando como um escritório paralelo no Corinthians, a Gaviões já demite treinador, afasta jogadores, e até decide se o time deve entregar um jogo. O destino desta postura omissa já está escrito. E não é nada saudável. É só esperar!