Acompanho a trajetória da fotógrafa Mirian Fichtner há bastante tempo. Em 2011, ela publicou um livro deslumbrante chamado Cavalo de Santo – Religiões afro-gaúchas, que mostrava a força da fé africana no Rio Grande do Sul. Um olhar sensível e profundo desvendava em fotos um universo muito próximo que desconhecíamos. O encantamento foi imediato e espalhamos com muita emoção aquele livro tão especial, que contava com o apoio do Ministério da Cultura e da Fundação Cultural Palmares.
O tempo passou. Inquieta e atenta, Mirian não parou o seu olhar. E ousou ainda mais. Em parceria com o produtor cultural Carlos Caramez fez um documentário longa-metragem inspirado no livro, que já conquistou inúmeros prêmios em festivais de cinema no Brasil e no exterior. Documentário que terá estreia nacional em Porto Alegre no dia 17, próxima quinta-feira, às 19h30min, na Cinemateca Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mario Quintana, onde fica em cartaz até o dia 23. A abertura da sessão será às 18h com toque de tambores, banho de pipoca, roda de conversa com os diretores e a presença de autoridades religiosas. A iniciativa tem o apoio do IECINE/Instituto Estadual de Cinema e da Cubo Filmes / Ilê Axé Iyemonjá Omi Olodô – POA/RS.
Cavalo de Santo marca a estreia de Mirian na direção de cinema e na direção de fotografia para cinema. Segundo ela, “o maior desafio enfrentado foi transpor a linguagem fotográfica e a densidade das cores do livro para a narrativa cinematográfica”. Roteiro e trilha sonora do documentário são assinados por Carlos Caramez.
Na tela, a história da presença africana no segundo Estado mais branco do país, a formação e a abrangência das religiões afro-gaúchas, o racismo, a intolerância, as diversas formas de luta do povo de religião para preservar seus cultos e manter a sua cultura, a diversidade e a força da fé cultuada pelo povo de santo do RS, uma fé que ainda conhecemos muito pouco.
O documentário é resultado de dez anos de uma cuidadosa pesquisa feita entre os terreiros gaúchos por Mirian e Caramez. Em destaque, o Batuque, a Umbanda e a Quimbanda, com suas características e peculiaridades regionais e as diferenças que existem entre os rituais do Sul e os do restante do Brasil. Um registro fundamental sobre a força da cultura que os negros, trazidos da África para serem escravizados, preservaram e espalharam pelo território nacional.
Nomes importantes da ancestralidade religiosa afro-brasileira no Sul participam do documentário, além de antropólogos e sociólogos que comentam dados do IBGE/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de 2000 e 2010. Dados que apontaram o Rio Grande do Sul como o estado com maior número de terreiros e de fiéis declarados pertencentes a este segmento religioso, proporcionalmente ao número da população.
Em 20 de novembro, data em que é celebrado o “Dia da Consciência Negra”, contra a intolerância religiosa no Brasil, o filme entrará em cartaz na plataforma de streaming Globoplay. Também estão previstas apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, São Luís, entre outras cidades brasileiras.
A Fundação Getúlio Vargas/FGV, no mapa das religiões elaborado em 2011, confirmou Porto Alegre como a capital das religiões afro no Brasil. Em segundo lugar está o Rio de Janeiro e em terceiro, Salvador
É um dado que causa surpresa e curiosidade entre estudiosos e pesquisadores do tema. O Rio Grande do Sul é o único estado brasileiro onde existe o Batuque, segmento religioso coirmão do Candomblé, com raízes comuns na África, mas com diferentes adaptações no Brasil. As religiões afro-gaúchas também influenciam Cone Sul. Muitas das casas de religião afro localizadas nesses países funcionam com pais ou mães de santo gaúchas ou com ialorixás e babalorixás latino-americanos, formados no RS.
O filme Cavalo de Santo já conquistou nove prêmios em festivais de cinema no Brasil: 4 Kikitos no do 49º Festival Internacional de Gramado/2021 – melhor filme, roteiro, trilha sonora e Júri Popular. No 14º Festival Internacional da Fronteira de Bagé, também em 2021, levou o prêmio de Melhor Fotografia. No IV Festival de Cinema de Rua em Remígio/PB ganhou Melhor Fotografia, Som, Trilha Sonora e Direção de Arte. E entrou na seleção oficial em mais três Festivais de Cinema no Brasil e na França.
Acompanhe o documentário nas redes sociais:
Site – cavalodesantofilme.com.br
Instagram – cavalodesantofilme
Facebook – cavalodesantofilme
Ficha Técnica
Direção – Mirian Fichtner
Roteiro – Carlos Caramez
Direção de Fotografia – Mirian Fichtner
Direção de Trilha Sonora – Carlos Caramez
Direção de Produção – Claudio Fagundes e Carlos Caramez
Montagem – Claudio Fagundes, Jorge Bazzo, Lucas Miralha e Guilherme Moreno
Colorização – Mauris / Cubo Filmes
Mixagem de Áudio – Zeco Dardo/Cubo Filmes
Pesquisa – Mirian Fichtner e Carlos Caramez
Realização – Cubo Filmes
Coprodução – Estação Filmes, Pluf Fotografias e Caminho do Mar Soluções Culturais
Coordenação Leis de Incentivo e Produção – Rosane Furtado
Apoio – Lei Aldir Blanc/Sedac/2021
Plataforma de Streaming – GloboPlay