O recente decreto federal que estabelece diretrizes para o uso de celular em ambientes escolares reacendeu um debate essencial: qual o papel da tecnologia na educação? Ao mesmo tempo em que dispositivos móveis representam uma poderosa ferramenta de aprendizado, eles também podem comprometer a atenção dos alunos e criar desafios para professores e gestores escolares. A questão central é como equilibrar esses dois extremos e garantir que a tecnologia contribua para, e não prejudique, o ambiente educacional.
O decreto surge em um momento em que diversas pesquisas apontam os impactos do uso excessivo de telas no desempenho escolar e no desenvolvimento social dos alunos. Estudos indicam que a distração causada pelo celular pode reduzir significativamente a capacidade de concentração e a retenção de informações. Ao mesmo tempo, algumas escolas ao redor do mundo já implementaram regulações semelhantes e observaram melhoras no comportamento dos alunos e no engajamento com as atividades presenciais.
Por outro lado, há uma preocupação com a forma como essa regulamentação será aplicada. Uma proibição ampla e inflexível pode gerar resistência por parte dos alunos e dificultar a inserção da tecnologia em práticas pedagógicas inovadoras. Afinal, o mundo digital é uma realidade e, ao invés de afastá-lo do ambiente escolar, é essencial ensinarmos aos alunos como utilizá-lo de forma crítica e produtiva.
A primeira grande questão sobre a regulamentação é: como garantir que ela seja eficaz? Muitos professores já relatam dificuldades em controlar o uso de celular em sala de aula e, sem uma estrutura clara de fiscalização, a aplicação do decreto pode se tornar inviável na prática.
Outro ponto relevante é a necessidade de diretrizes que levem em conta diferentes realidades escolares. Em muitas instituições públicas, por exemplo, os celulares são utilizados como ferramentas complementares de ensino, seja para pesquisas, atividades interativas ou mesmo para substituir a falta de materiais didáticos tradicionais. A proibição irrestrita pode acabar prejudicando os alunos que dependem desses recursos.
A formação de professores também é um fator essencial. Simplesmente restringir o uso dos dispositivos sem oferecer alternativas pedagógicas pode ser um erro. É necessário investir em capacitação docente para que os profissionais possam integrar a tecnologia de maneira adequada ao planejamento pedagógico.
Uma abordagem mais equilibrada pode ser a solução. Em vez de uma proibição generalizada, o ideal seria que cada escola tivesse autonomia para criar diretrizes conforme sua realidade. Algumas instituições ao redor do mundo adotaram soluções criativas para esse desafio. Em algumas escolas, o uso do celular é restrito por períodos, permitindo que os alunos os utilizem apenas em momentos específicos, como atividades pedagógicas direcionadas. Outras instituições implementaram armários eletrônicos, nos quais os estudantes podem guardar seus dispositivos durante as aulas e acessá-los apenas nos intervalos. Essa medida reduz distrações, incentiva a concentração nas atividades pedagógicas e permite o uso do celular em momentos apropriados.
Outra alternativa adotada são aplicativos de gestão, que bloqueiam determinadas funcionalidades do celular durante o horário escolar, permitindo apenas o uso educacional. Além disso, campanhas educativas sobre o uso consciente da tecnologia podem surtir mais efeito do que simples proibições, ajudando os alunos a compreenderem os impactos positivos e negativos da conectividade excessiva.
O grande desafio está em equilibrar o uso dos dispositivos como ferramenta pedagógica e evitar que se tornem elementos de dispersão. Para isso, é fundamental um diálogo constante entre gestores, professores, pais e alunos.
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Foto da Capa: Arquivo / EBC