Talvez não devesse começar com um ditado. Mas, aqui, cabe; ora, se! “O pior cego é aquele que não quer ver”; ou algo assim, não tenho certeza.
Seja foto, vídeo, um meme ou uma dancinha, nada importa: o que valida um fato é a mídia (“O meio é a mensagem”, Marshall McLuhan, 1967).
A massa lê, vê, vislumbra, mas não enxerga. Ou não quer nada disso, o que importa é navegar, é a interação com as redes sociais; já está sabendo tudo, é o olhar ideológico, um olhar de ouvir dizer… Murmúrios visuais. Uma pobreza, mas a cereja do bolo de políticos, influencers, internautas e comentaristas políticos de televisão. Antenados com a modernidade (assim o creem), põem em prática a essência do 1984, de George Orwell (1949), em versão atualizada, mas com tudo lá: a Nova Verdade, o Grande Irmão, a Lestácia, o Ministério da Verdade, etc., etc.
Domingo, 19/01/2025, o dia inteiro frente à TV, finalmente o cessar-fogo. A conferir: o resgate das reféns israelenses; a liberação das prisioneiras palestinas; a descontinuidade dos combates. Ufa! Até que enfim o Senhor deu o ar da sua Graça..! Muito pouca, mas já é alguma coisa. E o que vemos?
Turba de arruaceiros investindo contra três viaturas — brancas, impecáveis — protegidas, com dificuldade, por bandos de terroristas travestidos de força armada regular uniformizada — vestimentas bem combinadas, em cor, modelo e acabamento, também impecáveis — como nunca se viu nos 15 meses de duração da guerra, até então. As armas, como sempre, variadas, poderosas, bem cuidadas, empunhadas para o alto, no meio da gritaria, usadas como porretes ou estoques, para afastar os figurantes, desculpe, os civis mais raivosos.
Em dado momento, os carros da Cruz Vermelha não conseguem se mover; assim como a Cruz Vermelha, durante os 471 dias de cativeiro, não visitou nenhum dos reféns.
Melhor deslocar as moças, reunindo-as num só carro. Foi difícil, vimos com receio a transferência, mas com alívio: estavam bem, muito bem, roupas novas, de modelo atual, coloridas, bem penteadas. Cada uma portava uma bolsa (souvenirs?). Nem pareciam cansadas ao final da colônia de férias…
As tomadas subsequentes, até o final da noite, foram mais convincentes, humanas; plenas de amor, alívio e solidariedade. Outra turba em cena…
Jacob B. Goldemberg é arquiteto e professor. Já publicou os seguintes livros: Arquitetura: Espaço-Vida (1978), Arquitetura, Escritos (1998), O Essencial do Livro dos Livros – Contocrônicas, umas tantas (Ebook – Amazon) e Sobre Judeus, Hebreus e um certo Jesus (2024).
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Foto da Capa: Reprodução do Youtube