Desde o lançamento do Chat GPT, tenho acompanhando ainda mais atentamente as discussões em torno da Inteligência Artificial. Não há um café, churrasco ou reunião de trabalho em que o impacto da adoção indiscriminada da tecnologia não seja discutido.
Já conversei sobre seus efeitos nos mais diferentes setores – economia, organização do trabalho, saúde, privacidade – com gente de todas as áreas – criativos, nerds, administradores, motoristas de uber, garçons. Mas, confesso, o medo do fim imediato da raça humana nunca surgiu. Para isso, talvez, eu devesse ter discutido também com altos executivos dos EUA.
Uma pesquisa divulgada agora em junho pelo The Chief Executive Leadership Institute – Yale School of Management indicou que 42% dos CEOs norte-americanos acreditam que a Inteligência Artificial vai acabar com a humanidade em até dez anos. Ou seja, quase metade dos executivos concluem que IA é um risco real e de curto prazo.
Quando li isso, meu primeiro pensamento foi de que estaríamos falando de uma amostragem deturpada e repleta de líderes sem importância (estilo pesquisa eleitoral no Brasil, que coloca qualquer um com CNPJ ativo como empresário). Mas os CEOs entrevistados são escolhidos de acordo com os padrões metodológicos recomendados para o mercado norte-americano, respeitando a distribuição por porte, regiões e setores da economia. Foram ouvidos, por exemplo, os líderes de Walmart, Coca-Cola, Zoom e Xerox.
Mas o que leva estes profissionais altamente graduados (ou no mínimo bem pagos e informados) a adotar uma postura tão catastrófica? Que relatórios e informações esses executivos estariam tendo acesso? O estudo não aponta quais são os perigos que os assustam e, de forma geral, nenhuma das ameaças ligadas ao tema são novidade.
A substituição de humanos por ferramentas, por exemplo, é um processo iniciado com a invenção da roda. A mecanização agrícola expulsou milhões do campo. A chegada dos computadores deixou desempregados todos os funcionários da Olivetti. A incorporação da robótica esvaziou o chão de fábrica das grandes plantas de transformação. Mas a Inteligência Artificial deve levar isso a números nunca antes imaginados.
Segundo um relatório do Goldman Sachs, nos próximos dez anos, mais de 300 milhões de pessoas devem ser substituídas por máquinas em áreas como arquitetura, design, produção musical e de vídeo, redação. A previsão é de que somente 11 milhões de novos empregos sejam criados no mesmo período.
Há quem aponte também riscos de aumento da desigualdade (já que as máquinas seriam treinadas por humanos e herdariam assim preconceitos que poderiam levar a decisões discriminatórias), redução da privacidade e segurança, dependência tecnológica (sobretudo com o desenvolvimento da Inteligência Generativa combinado com a perda de habilidades humanas e ao enfraquecimento de nossa autonomia) e, principalmente a manipulação da informação.
Todas essas são questões sérias, que precisam ser avaliadas por governos, empresas, sociedade civil. Mas, mesmo que tenhamos mais 289 milhões de desempregados e vivamos em mundos paralelos em que cada um acredita na fake news que melhor lhe aprouver, o risco maior é de uma epidemia de diabetes por causa de tanto brigadeiro gourmet e bolo de pote combinada com a volta da poliomielite por falta de vacinação. Nada que leve à extinção rápida da raça humana. No pior cenário, eu acho que temos pelo menos uns 50 anos. Salvo eu esteja sendo muito ingênuo.
Eu esperava algum debate sobre o uso militar de IA ou os riscos de uma superinteligência descontrolada, mas pouco encontrei e sempre conteúdos especulativos, com projeções (ao menos no que pude perceber). Então, se você esperava que este texto traria uma super revelação. Lamento informar, ele é apenas um pedido de ajuda aos leitores mais atentos e que consigam me ajudar a ampliar meu conhecimento sobre os reais riscos da IA e o que os CEOs norte-americanos sabem que eu deveria saber.
Do contrário, que me perdoem os executivos, mas continuarei a tratar o aquecimento global como a melhor aposta para o fim da humanidade.
PS: em tempo, recomenda a leitura de “Bill Gates é o novo comunista na praça”, também publicado aqui no SLER.
Também recomendo este compilado de informações sobre como a UE vem tratando o assunto e os trâmites para sua regulamentação/controle. Parlamento Europeu.