Conheço o poeta Jorge Fróes desde o início dos anos mil novecentos e oitenta. Fazíamos parte de um grupo de poetas jovens que frequentava atividades na Biblioteca Pública do Estado, naquele bonito prédio histórico no centro de Porto Alegre. Líamos uns aos outros, fazíamos saraus e iniciávamos nossos caminhos pela criação literária.
Fróes demorou a publicar. Seu primeiro livro individual de poesia, Estamos quites, saiu só em 2015, numa edição da Vidráguas com a Escola de Poesia. Eu, que seguidamente sou requisitado para ler, profissionalmente, ou seja, com um trabalho remunerado, poemas dos outros, em cursos ou como jurado de um ou outro concurso de poesia, quando li esse primeiro livro do Fróes, pensei: “Gente, é assim”.
O poema dele se resolve com perfeita harmonia entre forma e conteúdo. É um alívio também depois de ler tantos livros já editados de poesia que ficam devendo ora em dizer algo interessante, ora em dizer de uma maneira interessante. Como em toda arte, a produção de grande qualidade é a minoria.
O que faz de um poema um texto que me encante como arte renderia um curso longo, como o que dou e chamo de Itinerário Formação Literária. É um curso com aulas individuais e que não tem uma data para acabar, pois, afinal, a formação literária nunca termina. Há sempre mais e mais para conhecer, para pensar, para repensar. Mas ler os livros do Fróes é um ótimo atalho para conhecer o que considero um bom poema.
Em 2019, ele lançou Poemas negros e outros nem tantos, pela UMESPA, e, agora, em 2022, na Feira do Livro de Porto Alegre, autografou Chegou um negro, editado pelo Instituto Estadual do Livro, órgão da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul. Nesses dois últimos, a temática da consciência negra, embora esteja presente também em Estamos quites, acentua-se já a partir dos títulos.
Fróes é um dos poetas que beberam tanto do convívio e da amizade quanto das ideias e da poesia de Oliveira Silveira. Além de excelente poeta, Oliveira, que faleceu em 2009, foi um dos proponentes, junto com o grupo Palmares, do Dia da Consciência Negra, trazendo o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como a data para marcar a luta do povo negro no Brasil.
Assim como Oliveira, que foi professor, com formação em Letras, Fróes leva adiante a disseminação de um pensamento e de uma literatura que vem ganhando cada vez mais visibilidade. O premiado escritor Jeferson Tenório, por exemplo, aprendeu a gostar de ler e, posteriormente, teve sua própria escrita influenciada pelas aulas e pelos textos do professor e poeta Jorge Fróes.
“Um negro/que sabe de si e dos seus/compreende que ele é feito/de água, de vento, de folhas,/de fogo, de terra, de pedra,/mas principalmente/de outros negros.” Assim termina o poema que dá nome ao livro Chegou um negro. Quem se interessar pela leitura é só procurar o Instituto Estadual do Livro (IEL).