Foi quando meu filho caçula, Beni, fez 12 anos (dia 25 de junho!) que percebi: temos 3 gerações vivendo na mesma casa. Explico: eu e a Brenda, minha mulher, somos da Geração X, dos nascidos nos anos 60 e 70 do século passado. (Aliás, comemoramos 25 anos de casados hoje, Bodas de Prata!).
Amir, o nosso filho mais velho, pertence à chamada Geração Z. O Beni faz parte da chamada “Geração Alfa”, aqueles nascidos a partir de 2010 – o guri é de 2011, fez 12 anos e não poderá mais assistir de graça aos jogos do Colorado. Sei que essas classificações de geração isso ou aquilo são imprecisas, generalistas e utilizadas principalmente para fins comerciais. Mas, nem por isso deixam de ser irresistíveis e deliciosas.
A Geração X, a qual pertenço, é a que seguiu aos “baby boomers”, os muitos bebês nascidos após a Segunda Guerra Mundial. Nós, da Gen X, somos os que pegamos a crise do capitalismo dos anos 70, aprendemos a temer a dívida externa e a inflação desde a mais tenra infância e demos os primeiros passos em um país governado por uma ditadura militar.
O nosso filho mais velho, Amir, é parte da Gen Z, dos bebês nascidos entre a segunda metade da década de 1990 até 2010, são as crianças que nasceram junto com a popularização da Internet. Sim, era lenta e discada, mas já estava lá. Quando eu me casei, recebi muitos telegramas e cartões em papel. Quando Amir nasceu, foram muitos e-mails e algumas mensagens pelo Orkut, dos mais “moderninhos”.
A geração Z foi a primeira nativa digital, já nasceu em um mundo dominado pelo digital e suas tecnologias. Vivem zapeando e dividindo a atenção entre internet, videogames e redes sociais, o que faz alguns os chamarem de “multifocais”. Amam e entendem de tecnologia. É a geração de Greta Thunberg, ativista climática e autista, afinal são os herdeiros de um planeta devastado. Ao contrário do individualismo da geração dos seus pais, valorizam o engajamento em questões ambientais, sociais e identitárias.
Falando em geração Z, aqui na SLER, o Ricardo Silvestrin nos lembrou que “a Geração Z é avessa a subterfúgios, joguinhos mentais, comunicação ambígua”, aliás características comuns entre os autistas, mostrando que Amir nasceu na geração certa! A Patrícia Carneiro (que está de aniversário hoje, 04/07. Parabéns!) notou que “parte da Gen Z está nem aí com a perfeição”, acusando-os de ter matado a selfie! Ela ainda nos trouxe a força da Geração Z preta, que não leva desaforo para casa!
A geração alfa já nasceu sob o domínio de smartphones e das redes sociais. Quando Beni nasceu, a maioria das felicitações vieram em comentários de postagens em redes sociais. Sua geração utilizou smartphones e tablets desde muito pequenos e, atualmente, não desgruda do tik tok sequer no banheiro. Eles vivem em rede e em constante comunicação colocando abaixo a separação entre o mundo virtual e o real.
A revista VC/SA nos conta que “os alphas também são mais propensos a crescer em configurações familiares menos tradicionais, com famílias inter-raciais, homoafetivas ou com mães e pais solos – uma revolução de proporções históricas”. Os alfas, além de estarem mais acostumados com arranjos familiares alternativos, encaram de modo mais natural a diversidade.
Como disse o Beni em sala de aula já há algum tempo: “gay não é um xingamento, mas uma característica da pessoa”. Sim, eles veem a diversidade sexual de forma diferente de nós (ainda bem).
Da minha percepção, essa geração é mais inclusiva que as anteriores de diversas formas. Eles cresceram com colegas com autismo e síndrome de down dentro de suas salas, o que os faz ver essas questões com mais naturalidade e sem tantas travas como a geração de seus pais.
Além disso, os alfas veem com naturalidade algo que já vem sendo anunciado há algum tempo: valorizam mais experiências do que bens materiais e preferem ter acesso a um bem do que sua propriedade – tem spotify e youtube e não cds e dvds entulhando a casa.
Como organizar uma bagunça dessas dentro de uma casa: acredito que não há receita mágica, deve-se lançar mão dos velhos amor, afeto, acolhimento e respeito às diferenças. E muita paciência. Não importa a geração, essas atitudes sempre estão na moda.
Foto da Capa: Kristin Mulligan / Pexels