Para Cláudio e Ricardo. E César, é claro.
Cláudio, Ricardo e eu estamos no mesmo parque, tantos anos depois. Se não é a mesma a praça, tampouco o mesmo banco – há mais sol e menos sombras -, os nomes continuam os mesmos. Cláudio, Ricardo e eu. E a amizade, com seus desgastes e puxadinhos. Com seus causos e silêncios. Com sua constância sem fúrias.
Se somarem os amores (furiosos) do trio – e ali rememoramos uns aos outros -, verão os rios caudalosos que passaram. Há amores dos vividos, dos distorcidos e dos totalmente inventados. Com amor e seus solavancos de tempo e espaço. Com amor e sua promessa de eternidade não cumprida. Com amor e seu rastro de trilha sonora. Mas a amizade está ali entre os escombros dos amores, segurando o timão de alguma permanência, como um peral que sobrevivesse às correntezas, segundo o que nem Montaigne escreveu, quando liamos bem mais, e sem lentes.
Há décadas, estaríamos correndo a caminho do futebol para ver ou jogar, mas cinco ou seis joelhos lamurientos mudaram a rota dos três pares de pernas. Há décadas, estaríamos saltitantes a caminho do Ribs para rir de maioneses caudalosas e inofensivas, mas dois ou três intestinos cansados mudaram o caminho e a velocidade dos passos ao longo dele. Agora é despacito, embora sempre em frente.
O bufê é agradável, de acesso suave pela escada pouco íngreme, e oferece sopa sem glúten, salada verde, carne magra, ou nem isso. O café, mais valorizado do que antigamente, será bebido lá adiante, em uma dessas padarias bonitas que não tinha. Seu nome é de sonho: Priscila. Vamos a ela, mas um ou dois joelhos suplicam pit stop no mesmo parque (hoje diferente), onde, em um banco compartilhado, honra-se em uníssono a trilha sonora permanente de Nei Lisboa, portanto ficamos parados vendo passar a bunda de alguém.
Na padaria, a garçonete, de sacanagem sem sacanagem, oferece um punhado de açúcar dos sonhos, e que nos sonhos vai permanecer, ao lado dela. Ou, agarrados ao adoçante, adentramos outro sonho, maior ainda: estarmos juntos novamente, depois de mais uma semana e suas estatísticas terríveis.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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