Um dia foi de afirmação; o seguinte de negativa. Na quinta-feira (18), o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) estaria pensando em renunciar ao mandado e deixar o Brasil, impressionado com a cassação do colega Deltan Dallagnol, seu parceiro da Lava Jato, ele no julgamento, o outro na acusação. Assessores do ex-juiz advogam que ele se torne uma espécie de perseguido político e peça asilo nos Estados Unidos, tornando-se uma espécie de “Jean Willys da direita”. Em seu twitter, Moro desmente que pretenda abandonar sua luta pelo Brasil.
– Sigo firme na oposição e focado em meus projetos.
Porém, um homem de primeiro escalão de Moro, de primeiríssimo escalão, afirma que ele ficou extremamente preocupado com a situação de Dallagnol. Agora, eles “vêm para cima de mim”, teria afirmado. A eleição de Moro, de fato, está sendo questionada na Justiça Eleitoral do Paraná pelo PL, partido de Jair Bolsonaro.
A legenda tem interesse na vaga porque o ex-deputado federal Paulo Martins, do próprio PL, que assumiria o lugar dele no Senado. Por isso, o lava-jatista e atual senador corre o risco de perder o mandato. Moro é acusado de abuso de poder econômico. E “quem fez a denúncia contra Moro no TSE foi o partido de Bolsonaro”.
O raciocínio é o seguinte: o ex-juiz se filiou ao Podemos em novembro de 2021 e se tornou “naturalmente” pré-candidato à presidência da República pela sigla. Mas, em março de 2022, ele desistiu de disputar o Planalto. Ao se lançar na disputa pelo Senado, ele já teria saído na frente ante seus adversários, beneficiado por grande volume de investimento feito pela candidatura que não levou adiante, mas que lhe rendeu a popularidade com a qual foi eleito senador.
Rumos aos EUA
O parlamentar procurou amigos e aliados que moram nos Estados Unidos na busca por um emprego, com isso, garantindo a sua permanência no país norte-americano. “A notícia procede, mas estamos tratando internamente e com sigilo. Ele imagina que vai ser cassado, então precisa controlar a narrativa. Ficar gritando que foi injustiçado resolve? Talvez, mas só para um grupo. O movimento de renúncia e denunciar que é perseguido político para o mundo dá certo”, aponta o aliado de Sergio Moro.
“Existe a problematização da esposa Rosângela Moro. Ela está muito feliz como deputada e não quer ir embora do Brasil. Mas isso é facilmente contornável”, aponta um aliado do senador. Questionado sobre quando a renúncia deve acontecer, a resposta é vaga. “Quando ele sentir que está emparedado, a única alternativa é a renúncia”. O Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi à Justiça para cassar o mandato do senador. A ação pede a investigação de supostas irregularidades em gastos e doações antecipadas da campanha de Moro.
O senador resolveu dar outro peso à sua reação e não se dar como caso perdido. No fim de semana, declarou que existe “um contexto de perseguição à oposição”. Segundo ele, os ministros do TSE fizeram uma interpretação incorreta da Lei da Ficha Limpa. Além de divergir da decisão, ele criticou a postura de aliados de Lula. Parece que regra que as costas folgam entre o vai e vem do chicote, não se aplica a ele:
“Não tem motivo para comemorar. O governo tem insistido na polarização como estratégia política, que é a mesma estratégia que se criticava no governo anterior. Então o que mudou? Mudou apenas o chicote de mão? Ou a gente vai trabalhar realmente para construir um país que é para todo mundo e vamos respeitar as divergências políticas?”
Apesar da decisão do TSE contra Deltan, o ex-ministro declarou-se tranquilo em relação ao próprio mandato e lembrou que, no fim do ano passado, a corte, por unanimidade, manteve a validade de sua candidatura. Os próximos dias dirão.
Bolsonaro é a bola da vez e dá folga a Moro
O fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser tido como a bola da vez do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para os próximos dois meses, Sérgio Moro pode ter ganho alguns dias de tolerância em eventual processo na corte. O presidente da Câmara, Artur Lira, até já vê Bolsonaro como melhor cabo eleitoral do que candidato e reconhece estar difícil contornar o processo de abuso de poder político e dos meios de comunicação oficial. Tudo em função da reunião que promoveu com embaixadores na qual fez verdadeiros ataques ao sistema eleitoral brasileiro, em especial às urnas eletrônicas.
O corregedor-geral do TSE, ministro Benedito Gonçalves, já revelou a fontes próximas que prepara um alentado e consubstanciado voto, de 400 páginas, para o caso. Como Bolsonaro não se elegeu, não cabe cassação, mas sim a declaração de inelegibilidade por oito anos. Esta derrota é prevista para ocorrer por cinco votos a dois. Dos sete eleitores, três são do STF, dois do STJ e dois dos advogados, que já estão sendo indicados por Lula, para representatividade de dois anos.
Por que o ajudante de ordens ficou calado?
O tenente-coronel Mauro Cid tinha duas opções ao depor à Polícia Federal: dizer que falsificou a carteira de vacinação de Bolsonaro sem que ele soubesse, ou que a falsificou a pedido dele. Aconselhado por seus advogados, Mauro Cid, preso há 15 dias por ordem do ministro Alexandre de Moraes, escolheu outra saída: ficar calado. Não responder a nenhuma pergunta. O silêncio de Mauro Cid deixou Bolsonaro mais apreensivo, tanto que logo sua assessoria passou a espalhar que não, que foi muito bom para ele. É sempre assim toda vez que Bolsonaro se enrasca.
O ex-presidente esperava que Mauro Cid o inocentasse, dizendo que ele nunca soube e nem encomendou a falsificação. Acontece que isso equivaleria a um suicídio para o tenente-coronel. Ao contrário, Bolsonaro correu para outro canto do corner, e avisou:
“Cada um para o seu lado”, disse ele em entrevista à CNN. No depoimento, já dissera não ter pedido que o ajudante falsificasse seu cartão de vacinação ou o de sua filha. Se o fez, torcia para que tenha sido uma “gestão pessoal” de seu ajudante. “Peço a Deus que ele não tenha errado”.
Foto da Capa: José Cruz / Agência Brasil