Hoje começo a escrever aqui. Sempre parecido quando a gente se inicia num lugar novo, concorda? Precisa se inteirar das particularidades, sentir o clima, ir se adaptando ao ambiente. E, quando se aparece do nada, também não dá para sair performando como se fosse um veterano da casa. Eu, por exemplo, primeiramente gosto de dar uma voltinha pelo ecossistema, tomar um cafezinho, experienciar a vibe, essas coisas de praxe.
Vai dizer que você, quando estreia num novo emprego, já vai pegando os jobs e sentando o braço? Não, né? Aposto que vai dar um giro, ver onde fica a copa, checar a localização do banheiro. Aí, na sequência, nunca lhe arrumam uma gaveta com chave, a cadeira não fica na altura ideal em relação à mesa, o computador não abre com a senha informada pelo TI. É necessário, antes, acertar algumas pontas.
Comigo não é diferente. E não é porque a relação é virtual que a pessoa não precisa esquentar os motores para dizer ao que veio.
Puxa, que falta de educação a minha! Peguei café e nem ofereci. Vai uma xicarazinha? Toma puro, com açúcar, ou adoçante? Eu sempre vou sem nada, acho que você identifica melhor o sabor. Humm, está meio frio, mas vale pelo ritual de iniciação.
Para abrir os trabalhos, elenquei alguns temas para crônicas. Nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente numa estreia. Contudo, nenhuma das premissas me agradou.
Até para irmos nos conhecendo melhor, confesso que não funciono bem planejando, com muita antecedência, meu material. É tudo meio intuitivo. Ou em cima de fatos prosaicos do dia a dia.
E você, como leitor? Tem algum tipo de liturgia, preferência por gênero, cronista favorito? Nem comentei que gosto de Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta. O Lima Barreto cronista também me agrada. De estrangeiros, os que mais leio, na categoria texto curto, são Manuel António Pina, Lobo Antunes, Julio Camba e Roberto Arlt. Já passou os olhos em alguns deles? Vale bem a pena.
Não gostou do café, confere? Percebi. Frio assim é intragável. Mas foi só para marcar a minha chegada no pedaço. Depois, a gente pede um novo. Acho até que vou experimentar o chá. Tem de erva-cidreira, parece feito há pouco tempo, está quentinho. Ajuda a apaziguar a adrenalina do début, sabe como é. Se tivesse uns biscoitinhos seria o céu, mas também é pedir demais. Isso aqui é uma página para os amantes de leitura, não uma organização sem fins lucrativos, dedicada ao bem-estar público.
Bom, estou avaliando aqui se já não foi tempo suficiente para um primeiro texto. Muita gente até finge estar doente para não ter que principiar na data marcada.
Não que a pessoa vá dar uma de Tim Maia, sair desmarcando shows a torto e a direito. Acontece que literatura não é uma marcha de blindados rumo ao front. Está mais para um passeio no bosque, parando, aqui e acolá, para contemplar uma florzinha, uma borboleta azul.
Para mim, deu. Vou desligar o computador e saltar fora. Com o andar da carruagem, acabo aprimorando a embocadura. Fui!