Você sabe controlar o medo de perder o controle? Demorou muitos anos, mas um dia finalmente aprendi que grande parte dos meus problemas se devia a uma singela fantasia: a de que eu tinha controle sobre qualquer coisa além de mim mesma. Pensando bem, nem sobre nós mesmos temos controle absoluto, não?
Houve ao menos quatro momentos marcantes em que a vida me esbofeteou com essa verdade: (1) quando perdi meu pai para um câncer agressivo que não cedeu nem sequer com o melhor e mais avançado tratamento existente à época; (2) quando minha mãe descobriu um câncer num momento em que a minha vida profissional estava em um momento ascendente, e eu precisei puxar o freio de mão no trabalho para fazer o que precisava ser feito por ela; (3) quando decidi que estava na hora de engravidar e descobri que, com raras exceções, é uma falácia que a ciência tenha resolvido a questão de infertilidade e (4) na pandemia, claro.
Com esses sucessivos momentos de aprendizado, seria de se esperar que eu já tivesse aprendido a não me frustrar tanto com as coisas que não saem como eu desejava/esperava. Ou a não me estressar tanto em um veículo pilotado por um terceiro. Mas quem controla isso?
Então percebi que há também alguma maturidade em compreender nossa incapacidade de aprender qualquer coisa sem a dança de dois passos para frente, um para trás, três para frente, dois para trás. Exceto nas contas de Instagram dos coaches motivacionais, a vida não anda só pra frente, não, definitivamente.
Há alguns dias, com data marcada, me vi no meio de uma situação em que o controle de fato passa para as mãos de outra pessoa. Para realizar um exame, precisei ser sedada. Estava nas mãos de profissionais de extrema confiança. Ainda assim, surgem as paranoias com que os colegas “control freaks” certamente se identificarão:
- Melhor não publicar nada logo antes do exame. Imagina escrever algo muito idiota e o post acabar por se tornar a última manifestação minha nas redes?
- E se eu acordar só em 2048?
- E se me confundirem com outro paciente e fizerem o procedimento errado?
- E se…
Claro que deu tudo certo. E eu saí da experiência com mais uma demonstração de que a ausência de controle per se não mata, evidentemente. Estou curada? Posso até achar que sim. Mas, no próximo voo, saberei que não. Paciência.
E você, querido leitor, estimada leitora: tem problemas em abrir mão do suposto controle? Manda tua resposta comentando no post sobre esta coluna que estará publicado nas minhas contas das redes sociais: no Instagram, no Facebook ou no Twitter.