Mick Jagger, o líder dos Rolling Stones, é daquelas figuras que parecem eternas. Rebolando nos palcos, ele comemorou os seus 80 anos ontem, dia 26 de julho, no mesmo Dia dos Avós – ele tem 8 filhos, 5 netos e 3 bisnetos. Pessoas como ele são lendas, parecem que sempre existiram e sempre vão existir, mesmo depois que a gente se for. Assim também são o seu colega Keith Richards, a Cher e o Sílvio Santos.
Os Stones estouraram com “I can’t get know” em 1965, eu tinha 3 anos de idade. Eles sempre estiveram presentes na minha vida. É verdade que, quando eu estava na adolescência, os Stones e os Beatles já eram ‘meio velhos’. E eu curtia mais o Led Zeppelin, o Deep Purple, o Yes.. o Pink Floyd…
Mas a insistência dos Stones é admirável e acabou catapultando o grupo para o podium de maior banda de todos os tempos, muito disso pela vitalidade e permanência. Tempo faz diferença. O Led durou apenas 12 anos (1968/1980) e nunca mais seus membros se reuniram ou tocaram as músicas da banda, mas ainda assim continua no topo de qualquer lista das melhores da história do rock. Imagina se tivessem seguido na ativa.
Desviei um pouco do assunto. O aniversário de Jagger foi oportunidade para muitas influenciadoras(es) anti-idadismo – preconceito por idade – exaltarem Jagger como um exemplo do que pessoas idosas são capazes ou no que podem se transformar. Jagger, filho de professor de educação física, sempre teve apreço pelo exercício físico. E isso deve ter influenciado toda a sua vida. Quem faz exercícios acaba cuidando mais da alimentação e da saúde. Mick sempre foi um bom moço, ao contrário do que sempre vendeu como imagem. Bono Vox dizia que ficava desconcertado com o Jagger em sua versão privada, vestido com roupas inglesas tradicionais e caretas.
Hoje, o líder dos Stones continua com uma rotina rígida de cuidados com a saúde e o corpo. Seis vezes por semana, por algumas horas, dizem, faz aulas com o seu personal e depois com um professor de dança. Tem uma alimentação saudável, quase não bebe e faz uso de suplementos alimentares. Durante as turnês, precedidas de treinos de corridas de 12 km, além do personal e da nutricionista, tem a companhia de um cardiologista na equipe pessoal. Muita dedicação e boa genética fazem um homem de 80 anos pular feito guri.
No perfil das influencers que exaltaram a vivacidade do band leader esta semana, alguns autores de comentários – que referiam ao fato de ele só poder fazer isso tudo porque tem dinheiro – foram massacrados. “A pessoa que fala que ele tem dinheiro é a mesma que não tira a bunda do sofá pra sequer caminhar, que é de graça”, contra-argumentaram.
Quero dar meu testemunho, para não ficar só no campo teórico. Eu tenho mais de 60 anos e tiro a bunda da cadeira. Caminho, faço pilates, tomo suplementos, me alimento de forma saudável e bebo pouco. Mas a minha síndrome metabólica não me permite ter o corpinho do Mick e se eu der uma rebolada daquelas, a minha lombar vai pro saco. Mas, veja, ainda consigo me cuidar porque tenho recursos para tais coisas e moro em uma área privilegiada com tudo à volta.
Imagine quão fácil é para alguém que mora numa favela pagar por uma academia de spin ou de pilates, que devem estar por todo o lado no bairro, claro (oi, isso é ironia). Ou caminhar 3 km pelas ruelas sem calçamento. Ou comprar suplementos importados, séruns com ácido hialurônico ou fazer harmonização facial. Tudo com uma aposentadoria que todos sabem o tamanho que tem.
Então, caras influenciadoras – e influenciadores -, atentem, o preconceito é tão sorrateiro que faz cair em armadilhas mesmo aqueles que de boa-fé pretendem combatê-lo. Utilizar o Mick Jagger ou o velhinho bombado ou a velhinha que salta de paraquedas como exemplos de idosos é apenas reforçar o preconceito. Fazendo das exceções um modelo a seguir, culpabiliza e responsabiliza os próprios idosos por não alcançarem os mesmos feitos. Em segundo, o mérito dessas exceções é ressaltar que esses idosos têm a vitalidade de jovens, reforçando a juventude como padrão social de ser humano de qualidade. Por fim, gera uma pressão capacistista sobre os idosos, como se todos tivessem que manter altas performances até morrer.
Então, gente, deixemos os idosos serem idosos. Exercício faz bem para a saúde, mas não precisa ficar bombado. É preciso se alimentar bem, dentro das suas condições. E a pele envelhece, é assim mesmo, e está tudo bem. O que não está bem é falta de políticas públicas, em todos os níveis, para combater o preconceito e para criar programas de saúde e assistência social específicos para esta população invisibilizada e desatendida que vai continuar aumentando. Mas isso é outra pauta.
Vida eterna, Mick Jagger!