Já há muitos anos vivemos os impactos das fake news em nosso dia a dia. Para muitos, este é o grande fenômeno midiático dos tempos atuais.
Esta é uma realidade que não pode ser anulada, no máximo mitigada, com informação checada por uma ou várias fontes confiáveis. Quando não tratada, já conhecemos os seus efeitos devastadores: Brexit, Bolsonaro, Trump, terra plana e por aí vai.
Mas não é só isso. As fake news se alastram porque corroboram o que as pessoas já pensam. Nenhum progressista acreditou na mamadeira de piroca, mas a história caiu como uma luva para os evangélicos que creem em uma conspiração externa para transformar seus rebentos na próxima Kitara Ravache. Da mesma forma, vi muito esquerdista de carteirinha cair em “breaking news” furado do DCM.
E, para piorar, agora ainda temos fotojornalismo com uso de múltipla exposição, criando uma imagem que jamais existiu. Quanta gente não acreditou que o Lula tinha mesmo levado um tiro? Quantos não pensaram que teriam feito melhor e quantos não rezaram em agradecimento ao vidro blindado?
O problema neste caso – da foto de Gabriela Billó na capa da Folha de S. Paulo – é que a “inverdade” não foi combinada com os russos. Desde que o Daily de Nova York publicou a primeira fotografia da imprensa mundial, em 1880, acreditamos que uma imagem vale mais do que mil palavras. Como saber que, do nada, o jornalão paulistano decidiu que podia inovar e investir no “fotojornalismoarte”?
E para piorar a salada grega em que se transformou a distribuição de informação nesse mundão de meu deus, agora também temos conteúdo produzido a partir de Inteligência Artificial. Precisando produzir cada vez mais conteúdo, em menos tempo e com um investimento que muitas vezes beira o ridículo, editores de todas as idades andam emocionados com esta possibilidade.
Afinal, muitas ferramentas prometem materiais exclusivos e personalizados com poucos inputs. Além disso, não seria necessário contratar, treinar e mimar redatores impúberes em redações e agências de conteúdo.
Mas vai dar certo? No longo prazo vai. Mas agora, pelo que vi, dá realmente para prescindir dos redatores, mas segue exigindo editores talentosos, sérios e atentos (o que sempre foi o maior custo da produção de conteúdo).
A revista Nature, por exemplo, já criou e divulgou regras para o uso de AI em suas publicações. O objetivo é restringir o uso da ferramenta de Inteligência Artificial generativa ChatGPT em publicações científicas.
Segundo a revista, a Inteligência Artificial – que vem sendo usada para escrever textos fluentes, que se parecem muito com o conteúdo feito por humanos – não poderá ser autora de estudos. Para garantir transparência no meio científico, a Nature determina que, caso o trabalho conte com o auxílio das máquinas, é preciso documentar o fato no trabalho científico, na metodologia ou nos agradecimentos.
Ou seja, é impossível deter o futuro e avançar exige cuidado e maturidade, o que pareceu faltar ao editor da Folha.