A comunicação e a sustentabilidade se retroalimentam. Uma depende da outra. E aprendi que há lados distintos da sustentabilidade, como já escrevi aqui, algumas semanas atrás. Mas para as coisas acontecerem, fluírem, tudo depende do estabelecimento de laços de confiança e de comunicarmos o que temos feito nas dimensões cultural, ambiental, social e transacional (multimoedas).
Com a Fluxonomia, constatei o quanto precisamos valorizar nossos recursos intangíveis, como redes, relações, contatos, conexões. Esses dias, fui convidada para falar para um grupo do setor hoteleiro sobre comunicação e sustentabilidade. Vou aproveitar este espaço para elencar visões de quanto é importante a adoção de práticas mais sustentáveis também na comunicação.
Cada um entende conforme sua experiência
Mas, antes de seguir, precisamos partir de um denominador comum: todos estão cientes que o conceito de sustentabilidade também abarca as relações entre as pessoas? A sustentabilidade é um aspecto importante na construção dos relacionamentos. Saber comunicar com cada parte do processo é essencial. Relevar, perdoar, reconhecer o erro, então, valem ouro.
Só que cada grupo e organização têm níveis diferentes de entendimento. Então, antes de se começar a sair mudando rotinas para economizar água, luz ou materiais, é fundamental detectar qual é o nível de entendimento do quanto é urgente ou relevante se incorporar medidas que promovam a sustentabilidade. Cada lugar do planeta pode ter uma leitura diferente desse aspecto. Mas vamos combinar que em quase todos os cantos do mundo já são afetados pelas mudanças climáticas. Quem tem mais facilidade de acesso à informação pode aproveitar para esclarecer determinadas situações.
Portanto, é necessário saber ler o campo, lançar mão da sensibilidade para saber se as pessoas compreendem aquilo que desejamos comunicar. Porque cada um entende as coisas com os olhos, o coração da sua experiência.
Quando Fulano fala com Beltrano
Fulano diz X, o Beltrano pode entender Y
quando na verdade, a mensagem é Z
Quem já presenciou isso?
É muito importante ter uma mensagem clara que não deixe dúvidas. E quanto maior o repertório, o conhecimento da pessoa que recebe a informação, mais observações sobre a forma, o conteúdo que foi comunicado são considerados.
E TUDO envolve COMUNICAÇÃO! Pois TUDO COMUNICA!
Comunicação e Sustentabilidade
Divido esse tema em três esferas
Comunicação PARA Sustentabilidade
O que significa em um projeto, ação, produto ou serviço a comunicação para sustentabilidade? Para que seja sustentável, a comunicação precisa considerar que aspectos? Hoje está claro para mim coisas que há anos eu não reparava, ainda mais nesses tempos de tantas sutilezas na forma de nos tratarmos.
Primeiríssimo passo: há vontade, desejo dos tomadores de decisão, dos donos do negócio, do proponente em ser mais sustentável? E o que é a sustentabilidade para ele? O conceito e as múltiplas faces do que vem a ser sustentável precisa ser compreendido entre as partes. Parto do princípio que é uma boa ideia visualizar um futuro desejável. Onde queremos chegar? Como seria o projeto/serviço perfeito?
Para evoluir, crescer, qualquer coisa requer investimento de energia, recursos, muita conversa com diferentes atores. No caso da comunicação, na elaboração de um projeto ou serviço, que ferramentas podemos dispor para evitar desperdício de tempo, mal-entendidos e até desentendimentos?
É crucial se estabelecer acordos de convivência. Pois há algo mais insustentável de que se chamar uma pessoa/empresa para fazer um serviço e demandar reuniões presenciais, online, alimentar expectativas e, depois de semanas de negociação, o contrato não ser fechado?
Isso porque antes de qualquer coisa, o interessado ou o proponente precisam compreender qual é o estilo, a expertise do profissional que será contratado para comunicar para a sustentabilidade.
A pessoa que vai montar e/ou executar uma estratégia com várias ações de comunicação deve ter uma boa noção de tudo que envolver determinadas medidas. O que é abundante? O que é escasso? Quais são os passos mais assertivos dentro do contexto? Vale lembrar que a sustentabilidade é um processo. Então é fundamental que o trajeto, o caminho a ser trilhado também seja leve, gostoso.
Com o passar dos anos, e, também, com a formação em Fluxonomia, constatei que para ser sustentável precisa ser divertido. Pois o processo é tão ou mais importante que o resultado final. A construção das relações, o respeito e a ciência de que estamos todos no mesmo barco é determinante para a felicidade possível. Escrevo isso porque trabalhar com comunicação é lidar com imprevistos. É saber ser flexível e aberto. E, principalmente, saber observar, ler os sinais que o meio e os comportamentos representam.
A comunicação para a sustentabilidade requer uma linguagem precisa para os stakeholders, para que todos os envolvidos entendam os porquês de se adotar determinadas medidas.
O contexto dos resíduos pode ser usado para vários exemplos. O que significa uma agência, uma organização fazer uma campanha de limpeza para a cidade e não fazer a correta separação dos seus resíduos? A comunicação para fomentar a sustentabilidade deve partir do exemplo de quem a promove. A propósito, você sabe se universidade que você estudou faz a correta separação e destinação dos resíduos? (vale conferir)
Comunicação COMO Sustentabilidade
Nesse ponto vamos falar de materiais, produtos. Como as formas, os instrumentos que servem para comunicar também transmitem o quanto se é preocupado com a sustentabilidade?
O material deve estar em sintonia com a comunidade que está sendo inserida. Qual é o papel, o brinde, o tipo de material que foi escolhido? Por exemplo, o que o material do banner comunica? Banner de lona plástica pode ser encaminhado para o reaproveitamento ou para a reciclagem? E se o banner fosse feito de pano, de juta ou algodão por uma costureira local? No banner de pano é possível costurar, pregar com alfinetes e ser reutilizado incontáveis vezes. Já recebi tantos cartões de apresentação de materiais diferentes, de folhas de tetrapak (as caixinhas de leite), folhas de árvores, madeira etc.
Há materiais que comunicam o oposto, são antissustentabilidade. Especialmente aqueles com são usados por pouco tempo, uma vez, e seu destino será o aterro sanitário… Ou seja, é fundamental saber o que é realmente encaminhado para reciclagem na sua região, pois isso varia muito.
Como há casos de opções cujo custo financeiro é bem mais alto do que uma alternativa mais usual, sugiro repensar considerando essa equação: qual é o custo x benefício: para as pessoas, para o planeta e para o empreendedor. Por exemplo, o café. O Nespresso é sustentável e prático para quem? É possível fazer café com menos impacto? Há quantas formas de fazer café? Qual ocasião pode ser ofertado um café com prensa francesa, que é fresco e não precisa de filtro? A qualidade do café compensa? Ou seja, antes de se tomar uma decisão de fazer café, vale considerar distintos tipos de situações.
Comunicação DA sustentabilidade
A comunicação das ações que merecem ser reconhecidas para promover maior conscientização entre as pessoas pode servir não só como benchmarking como para engajar pessoas que antes não tinham se ligado de determinadas coisas.
Um negócio, um serviço, um produto podem contribuir com a evolução da conscientização das pessoas? Está entre a estratégia do seu negócio difundir preceitos de sustentabilidade? Queremos que nosso cliente ou consumidor final também se engaje na adoção de práticas mais amigáveis para o avanço da civilização?
A comunicação da sustentabilidade é aquela que informa o que está sendo feito pela sustentabilidade para o público da organização, empresa, instituição. É uma ótima oportunidade para disseminar conceitos para que as pessoas compreendam melhor o quanto tudo está interligado.
Aí também entra um ponto superimportante. A transparência na comunicação da sustentabilidade é fundamental. É crucial ser honesto e dizer o nível em que está o processo de instalação de determinada medida. Não existe um empreendimento 100% sustentável no mundo, a sustentabilidade é um processo, um caminho a ser seguido. Tudo gera algum tipo de impacto.
A comunicação da sustentabilidade precisa ser muito cuidadosa. É tipo um telhado de vidro, corre o risco de se manchar a reputação de uma empresa. Aí entra o greenwashing, cuja tradução é lavagem verde. Onde se diz que faz isso ou aquilo, mas na verdade, não é bem assim.
Vamos pegar de novo o exemplo de resíduos. Em cidades ou mesmo estabelecimentos, é comum as pessoas separarem os resíduos e depois misturá-los. Isso detona com a reputação do processo. E dificulta o engajamento na separação, abala a credibilidade. Ou seja, se há divulgação de que se separa os resíduos é preciso garantir que a destinação final e também o gerenciamento seja, de fato, realizado. Então, se há separação, quem garante que a pessoa que recolhe o resíduo dá a destinação adequada para cada tipo de material? E aí entra também o relacionamento com os vários stakeholders.
Para concluir, sugiro que os profissionais de comunicação se informem sobre os motivos de se adotar medidas mais sustentáveis. É muito comum esse segmento de serviço cometer desperdícios e, pior, explorar e não tratar com respeito seus colaboradores e fornecedores. Enfim, se tantas empresas se preocupam com ESG, quem trabalha com comunicação também precisa evoluir na gestão, na ampliação da consciência do seu impacto no mundo.
