Em abril eu participei do Seminário de Comunicação da FAMURS, a federação dos municípios gaúchos, para falar sobre estratégia de conteúdo em podcasts. Após exibir trechos de produções em áudio e vídeo de referência para os presentes no evento no Nau Live Spaces, em Porto Alegre, o jornalista Voltaire Santos me apresentou assim: “Vamos agora ouvir a Marlise Brenol para falar sobre a ciência por trás do podcast”. Como assim ciência? De onde o Voltaire tirou esta ideia? Pensei por poucos segundos antes de realizar a palestra na qual eu explicava por que usar podcast na comunicação pública.
Voltaire sabia da minha trajetória de professora e pesquisadora em Comunicação, eu também havia comentado com ele sobre a fala preparada: “Sistematizei um penso sobre o uso dos podcasts para comunicar”, portanto fez sentindo a cognição do Voltaire sobre o que viria pela frente. Eu contei a ele o que havia preparado, Voltaire utilizou o repertório próprio para interpretar o meu comentário e produziu uma síntese sobre ele. O resultado foi uma introdução perfeita para a minha fala, mesmo sem termos combinado anteriormente. Neste caso, eu e o Voltaire nos comunicamos com eficiência e assim pudemos ampliar o alcance da nossa mensagem para a plateia de 200 profissionais de comunicação.
Portanto, sim, comunicar é uma ciência, porém não exata. Como assim? Nem sempre um método de sistematização, categorização e explicação será reprodutível como nas fórmulas matemáticas nas quais uma equação leva sempre ao mesmo resultado se percorrermos o mesmo caminho. A comunicação requer o em comum – está expresso na raiz o termo “comum”. Tornar comum depende de um senso de comunidade, de compreensão mútua e só assim a mensagem carregará o poder de levar à ação e, melhor, à participação. Mais importante ainda quando falamos de comunicação pública, ou seja, de prefeituras. Preste atenção na primeira tela de conteúdo da minha palestra no evento da Famurs: quem não é ouvido, não é compreendido.
Por que eu decidi começar com esta provocação? Porque na comunicação muito se reproduziu máximas relacionadas à repetição visual para fixar uma ideia: “quem não é visto, não é lembrado” ou “uma imagem vale mais que mil palavras”, entre outras. A sabedoria popular nem precisaria ser testada pela ciência para ser tomada como verdade, pelo menos, em determinados contextos. A força de uma imagem pode comunicar mensagens instantâneas impactantes e, quando repetida, ficar na lembrança por um longo tempo. No contexto de escassez de espaços para comunicar para um público difuso, como foi a era da comunicação de massa, era bem coerente. Hoje falamos em texto de copy, clickbait e outros chamarizes para ganhar o like ou alcance e mensurar o que o publicitário Walter Trindade, da Agência Cartola, chama de “métrica de vaidade”, ou seja, ganha cliques, mas não necessariamente leva a uma participação ativa, ao engajamento.
Por isso a importância de ser ouvido. Quem não é ouvido, não é compreendido. Virou meu mantra e não apenas para vender podcasts, para vender comunicação eficiente. Uma comunicação bem-sucedida é aquela capaz de chegar ao receptor, receber atenção, escuta, interpretação e compreensão. Existe estratégia, método, mensuração, resultado: há ciência por trás do podcast, sim, e do videocast, dos posts de social media, do anúncio offline, da notícia no jornal. Só quando houver o reconhecimento e a compreensão de que falar não basta para comunicar é que iniciamos o processo de comunicação.
A consciência em relação à ciência da comunicação, infelizmente, é escassa, enquanto a ansiedade por falar em diversos canais é abundante. O resultado é objeto de estudos na pesquisa científica: o excesso de informação e a desinformação. E então remeto para outra frase que ouvi em um evento da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje): “informação não é comunicação”. A frase é da anfitriã do evento, a professora e pesquisadora em Comunicação, Rosângela Florczak, como um convite à reflexão para os colegas que discutiam “Desafios relacionais diante de plataformas e soluções tecnológicas”. Eu não apenas escutei a Rosângela, eu a compreendi: a fala está investida da missão de aproximar mercado e academia para melhorar a comunicação, romper os muros das universidades, aplicar a teoria na prática e transformar o mundo ao nosso redor.
Este texto escrito por mim na Sler poderia ter sido falado e boa parte da mensagem aqui expressa esteve na minha fala no evento da Famurs, está no conteúdo das minhas aulas e está nas minhas participações em reuniões com a equipe da Cartola. Mais do que uma sala de aula repleta de alunos (50, 60, 70) ou uma plateia lotada de pessoas, precisamos de mais escuta e compreensão. Este é o futuro desejado não só para a educação, mas para a nossa sociedade.
Mas voltando ao podcast. Os formatos podem ser diversos: improvisos, talk shows, narrativas temáticas, infotenimento. A criatividade mira para o alto e além. Inclusive textos bem escritos e depois narrados com maestria no formato áudio com edição e brilhantismo podem não apenas comunicar, mas também emocionar. É o caso da série “Minhas certezas erradas” do cineasta e podcaster José Pedro Goulart. Eu ouvi um e depois outro e outro e fiquei querendo ouvir o próximo a ser lançado: recorrência e periodicidade. O podcast é um formato eficiente porque requer apenas disposição, fone de ouvido e atenção para consumo desta mídia. Se o ouvinte chegou até o conteúdo de áudio (ou áudio e video) e se dedicou a ouvi-lo até o final, houve interesse, houve escuta, houve interpretação e, com sorte, compreensão.
Mas, sim, a escuta não basta, a repetição, o estudo e a reflexão ajudam no aprendizado e, principalmente, levam à ação. Por isto, compartilhei com todos que solicitaram a minha apresentação na Famurs e compartilho aqui também. A palestra está neste link. Mas atenção: entre uma tela e outra há experiências, bastidores, pesquisa. Se não conseguir escutar, marcamos um próximo encontro!
Foto da Capa: Cottonbro Studio / Pexels