Uma vez, o grande Ariano Suassuna disse que o otimista é um tolo, o pessimista é um chato e que bom mesmo é ser realista esperançoso. Os três tipos elencados pelo gênio paraibano estão bem à vista na atualidade nacional.
Já vamos com mais de um mês da posse de Lua e ainda se vê por aí uma certa chatice pessimista dos temerosos de tentativas de golpe de Estado, que se mostraram mais manipulação de badernas do que movimentos políticos articulados para derrubar o governo eleito… Muito pessimismo, não lhe parece, leitor?
É claro que o contraponto à chatice pessimista não pode ser o otimismo tolo de crer que a volta de Lula ao terceiro andar do Palácio do Planalto é, por si só, a panaceia contra nossos males, todos agravados nos últimos quatro anos.
Afinal, quase 10 milhões de brasileiros estão desempregados, outros trinta e poucos milhões vão levando a vida em trabalhos informais (sem Previdência Social, sem FGTS, sem férias). Juntam-se a esses, os milhões que passam fome – 30 milhões segundo Lula, 15 milhões de acordo com a ONU – e os 47 milhões que estão em situação de insegurança alimentar nos dados da FGV.
Então, resta o realismo esperançoso do Suassuna. E a esperança, como sempre, vem do povo, da sociedade, que é quem cuida da qualidade da nossa política. O voto é a vacina que imuniza contra a doença do autoritarismo, o remédio que fortalece as instituições.
Ainda não dá para fazer uma grande festa, mas o resultado desta última eleição para o Senado e a Câmara, apesar da vitória de muitos reacionários e oportunistas, mostra que a sociedade começou um ciclo de enxugamento e consequente qualificação do quadro partidário nacional. Composto de 32 legendas registradas no TSE, a maioria é mais ajuntamentos de pessoas em defesa de interesses privados do que agremiações políticas preocupadas em buscar soluções para os problemas da Nação.
Na legislatura passada, 30 partidos tinham representação na Câmara e 21 ocupavam cadeiras no Senado. Nesta nova legislatura, o número de legendas no plenário da Câmara dos Deputados caiu para 23, mas sete delas têm que se fundir com outras, ou formar federações, já que não cumpriram a cláusula de barreira. Então, serão 19 bancadas no Plenário Ulysses Guimarães. No Senado, das 21 bancadas eleitas em 2018, só 15 continuam ocupando cadeiras em 2023. No Congresso Nacional, onde ainda vigora o franciscano “é dando que se recebe”, esse enxugamento pode ainda não resultar em mais qualidade, mas já o deixa menos ruim. Não?
E aqui lembro outro brasileiro ilustre, o doutor Ulysses Guimarães. O Senhor Constituinte disse, lá nas antiguidades do anos 1990, que “quem não se interessa por política, não se interessa pela vida”. O povo se mexe, ainda que lentamente. Cabe, agora, às lideranças no Congresso Nacional mostrar que o interesse pela política é essencial para que o Brasil seja, de verdade, um país mais igual. Torçamos para que Lula transforme em realidade o simbolismo da sua terceira subida da rampa do Planalto e deixe que o povo seja mais protagonista de nossa história e menos mero beneficiário de (ainda indispensáveis) programas sociais.