Essa semana vivi uma emoção que vou tentar explicar aqui. Estive na reunião de comemoração dos 20 anos do Conselho Consultivo do Parque Estadual de Itapuã. Se não foi o primeiro, é um dos pioneiros do Brasil, implementado pela direção que reabriu a Unidade de Conservação, em abril de 2002, depois de ter ficado fechada por dez anos. Para quem não acompanhou o que aconteceu a região de Itapuã, no século passado, vou contar um pouco do que representa a data. O conselho reúne representantes de várias instituições que atuam com os principais objetivos da categoria, uma unidade de proteção integral, conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o Snuc.
Vale muito conferir a publicação que explica as funções e a importância de conselhos para UCs, feita pelo Imaflora e Imazon. Clique aqui.
Viva a história de Itapuã viva
Desde os meus primeiros anos de jornalista, venho acompanhando a batalha da implantação do parque. Hoje a área é um paraíso que qualquer pessoa pode acessar, dispõe de uma infraestrutura de dar inveja a maior parte dos parques do Rio Grande do Sul. Fica a 57 quilômetros do Centro de Porto Alegre, em Viamão.
O parque existe graças a determinação de pessoas, principalmente da sociedade civil
A existência do parque, consequentemente, do seu conselho, é resultado do empenho desmedido de muita gente. E há um grupo que não pode jamais se esquecido: a Comissão de Luta pela Efetivação do Parque Estadual de Itapuã, mais conhecida como Clepei. Acompanhei a atuação dessa comissão de diferentes lados do balcão: como repórter do jornal Correio do Povo, coordenadora da assessoria de comunicação da Sema, que foi responsável pela reabertura da UC, e esposa de um dos fundadores da Clepei. Ontem foi muito tocante ouvir os depoimentos de pessoas que viveram a transformação da área, incluindo integrantes da Clepei, moradores da região, pesquisadores, servidores etc.
Só para terem uma noção, o parque foi criado e desapropriado em 1973, mas, depois disso, muita gente construiu lá casas de veraneio. O lugar é cheio de praias paradisíacas e limpas e fica exatamente no encontro da Lagoa dos Patos com o Guaíba. Só a Praia de Fora, na beira da Lagoa dos Patos, chegou a ter mais de mil casas! Além disso, a área sofria com a extração de pedras de granito rosa, muitas famílias viviam dessa exploração.
Então, ao ouvir as palavras do Alex, um testemunho do trabalho de muitos anos de educação ambiental, clique aqui para ver a entrevista dele e do Godoy, um dos guias de ecoturismo do Parque. Aliás, vale muito fazer as trilhas, há opções com diferentes atrativos e graus de exigência física. A história do Alex é mais que uma luz no fim do túnel, sobre o quanto é possível tornar realidade um objetivo que foi sonhado por várias pessoas.
Ele é filho de cortador de pedra, chegou a trabalhar nessa função, depois, devido à formação oferecida pela Administração do Parque, foi monitor ambiental e conseguiu se formar em Biologia. Hoje ele faz parte da equipe de uma empresa terceirizada que faz a segurança da UC. Ah, e até ser reaberto, houve uma baita resistência da comunidade para a efetivação da área. Por isso, que ao encontrar com nativos da região, pesquisadores de distintas universidades, servidores públicos de outros órgãos felizes e comemorando a data junto a atual gestora, a Dayse Rocha, é uma emoção indescritível. Clique aqui para conferir a entrevista que fiz com Dayse e outras pessoas presentes na comemoração.
Para Jane Vasconcelos, gestora do Parque no governo Olívio Dutra (1999 a 2002), responsável pela sua reabertura em abril de 2002, a comemoração foi mais que um evento. “As sementes que plantamos germinaram”, comemora, afirmando que o período em que esteve à frente do Parque foi o mais intenso, e, ao mesmo tempo, o de maior recompensa profissional devido à equipe aguerrida e comprometida que pegava junto “na alegria e na tristeza”. Jane, hoje com 77 anos, morou numa casa junto ao Parque e coleciona histórias do tempo que viveu junto à natureza exuberante de Itapuã. Naquele tempo, o Parque foi viabilizado com recursos do Pró-Guaíba.
Para mim, que trabalhei direto em muitas ações, como faxinas, velejaço, contatos em escolas, relações com diferentes públicos e coordenei a elaboração de distintos materiais de divulgação, ter visto que até hoje o farol da esperança está funcionando muito bem, foi constatar o quanto é verdadeira a sentença atribuída a antropóloga norte-americana Margaret Mead:
“Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou”.
Saiba mais
O site da Sema tem mais informações, clique aqui. O valor do ingresso hoje é de R$20,45 por pessoa, mas há várias categorias que pagam meia. O número de visitantes é bem controlado. Então é fundamental chegar cedo para entrar. Atualmente duas praias estão abertas ao público e há possibilidade de se fazer trilhas com vistas espetaculares.