Paolla Oliveira é atriz brasileira, global, uma mulher com 40 anos, branca, amante do carnaval e namorada de Diogo Nogueira, músico, filho do lendário sambista carioca João Nogueira. Paolla Oliveira é uma celebridade que tem o posto de musa do carnaval, há muitos anos desfilando como madrinha de bateria e destaque no carnaval. Carioca. Paolla é uma foliã. Celeb, mas foliã. E assim como todas as mulheres sofre pressão estética, mesmo estando dentro dos padrões e performar um corpo perfeito, sexy, desejável.
Paolla vem há algum tempo embarcando na discussão do corpo livre, pois mesmo para as mulheres brancas padrões, o etarismo persegue, bem como a pressão sistemática da mídia sobre os corpos das celebridades dentro e fora do carnaval.
As musas negras do carnaval não têm a dimensão mediática de Paolla, mas talvez por estar convivendo em um ambiente carnavalesco miscigenado, por sua relação com Diogo, a atriz teve um insight e criou uma série em seu Instagram com um vídeo que viralizou e foi parar nos principais canais da internet e fora dela.
O vídeo de início da série questiona a preparação para o carnaval… aquele discurso que está na boca dos destaques e passistas do corpo perfeito, de um corpo que precisa ser preparado. Paolla em seu texto do post diz:
“Esse ano eu decidi fazer diferente e quero me preparar para o carnaval de outra forma. Livre de julgamentos, feliz e conectada com cada parte potente que trazemos dentro de nós.”
No vídeo, na linguagem da internet, Paolla mostra várias reportagens onde o foco são o julgamento sobre os corpos, e o que deve ser a preparação do carnaval como dietas, secar…e até uma matéria onde a mídia questiona se ela não estaria grávida do sambista por estar com uma barriguinha relevante.
No decorrer do vídeo, a própria atriz vai até o samba do trabalhador no RJ, e questiona vários homens sambistas, humoristas, foliões sobre o corpo de uma mulher para o carnaval. E a maioria sem exceção fala de corpo perfeito, bunda, coxas. Alguns citam atributos intangíveis como alegria. Mas a maioria evidencia o corpo, a estética, ou seja, a objetificação.
A atriz começa no vídeo a descontruir, e perguntar se os homens fazem alguma dieta para o carnaval… e todos começam a dizer que não fazem nada…a preparação pode ser comer o churrasquinho da quadra, beber a cerveja que eles estão tomando, e a conexão com a música e a energia do samba. Ou seja, a preparação que eles homens estão tendo sem nenhuma preocupação com a performance dos seus corpos.
Paolla não usou uma linguagem acadêmica, não apontou o machismo e sexismo evidentes, apenas trouxe uma narrativa onde isto tudo grita e se mostra. E finaliza com uma costura sensata do vídeo mostrando que o corpo ideal do carnaval é o humano. Mas deixa evidente que ainda há muito a se desconstruir na visão do carnaval em relação as mulheres.
O carnaval é a festa da carne, dos corpos, da fantasia transposta na avenida, da libertação sexual e moral por quatro dias no Brasil. Mesmo assim ainda aprisiona as mulheres em padrões e julgamentos. O carnaval no Brasil reflete a cultura brasileira com todas as suas nuances boas e ruins.
Mas afinal é o único momento em que, através da fantasia, se sonha com leveza, apesar de toda dureza da vida de um brasileiro.
Que venham no futuro mais carnavais onde os corpos sejam apenas humanos, e em transe pela folia sem sexismo, machismo, homofobia e racismo. Tudo isto ainda presente nas festas do Brasil.
E Você? Como se prepara para o carnaval? Como vive o carnaval? Na real, esta deveria ser a única pergunta relevante.