Com entusiasmo, recebemos a notícia de que o Banco de Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) criou uma linha de crédito específica para equidade de raça, gênero, e redução de desigualdades na sociedade.
Tal linha de crédito tem como objetivo principal fomentar o empreendedorismo de quilombolas, negros e indígenas.
Certamente um produto com destinatários tão específicos trará muitos debates na sociedade e merece uma melhor análise.
Temos que ter o entendimento de que, quando falamos deste nicho da população, estamos falando de aproximadamente 20% da população gaúcha e 80% dos residentes em periferias. Muitos deles desempregados e com pouca chance de recolocação no mercado de trabalho, o que acaba fazendo com que se busque o empreendedorismo não como forma de evolução patrimonial ou vocação, mas sim sobrevivência, pois não se tem o suporte financeiro familiar que um empreendedor oriundo da classe média e alta possa ter.
Esta linha de crédito faz com que este tipo de proposta, com ganhos de pouco retorno para o BRDE, a curto prazo, seja analisada com a mesma atenção que as outras propostas são analisadas e contempladas.
Cabe ressaltar que de nada prejudica os demais empreendedores que busquem um suporte financeiro do BRDE, pelo contrário, faz com que facilite o trabalho de análise do banco, acelere a aprovação das propostas vultosas e ainda traga mais oportunidades de trabalho para nosso mercado hoje tão prejudicado.
Ainda, em uma simples análise, chega-se à conclusão de que trazendo maiores oportunidades para iniciativa privada, acaba por diminuir também todo peso financeiro que hoje é suportado e até mesmo não atendido pelo nosso Estado.
Isso faz com que muitas pessoas possam começar a gerar renda, criar empregos e fomentar a economia.
Pessoalmente, eu como empresário, negro, do ramo securitário e por esse ser um setor não muito procurado quando se fala em incentivos e investimentos financeiros, tendo em vista que o retorno econômico das corretoras de seguros ser normalmente lento, em diversas situações obtive negativas aos pedidos de linhas de créditos.
Algumas vezes a motivação se dava por entender que o banco pode correr um risco muito grande e um retorno de capital muito lento. Ou em outras situações, na grande maioria, a análise pessoal do empresário, devido a nossa realidade social onde deve-se ter um cuidado redobrado antes de favorecer financeiramente o empreendedor negro, passei por inúmeros questionamentos descabidos, inclusive ao ponto de constrangimento ao ter de apresentar os mesmos documentos em mais de uma ocasião e ainda ter de passar um breve relato do meu histórico familiar, situação essa que de nada teria sentido naquela situação. O constrangimento e desconforto foi tão grande que ficou evidente o esforço da instituição bancária em me fazer desistir da solicitação.
Contudo, desta vez, temos uma instituição que está oferecendo um serviço diferenciado, capacitando e tornando mais receptiva a sua “linha de frente”, tornando o empreendedor negro também parte do processo econômico.
Na primeira experiência que obtive com esta nova realidade, pude sentir que eu não estava ali, com toda conotação pejorativa que se possa ter, como um negro empreendedor pedindo dinheiro e sim me senti como um empresário/empreendedor solicitando verba para expandir o meu negócio.
Parabenizo e muito a atitude tomada pelo BRDE, que teve a sensibilidade, visão e até mesmo coragem em apostar no nicho empresarial abandonado pela grande maioria.
Nós, da ODABÁ – Associação de Afroempreendedorismo, sem qualquer apoio estatal, sentimos no dia a dia as dificuldades de obter apoio na iniciativa privada e vislumbramos um futuro muito promissor com soluções pontuais apresentadas como essa do BRDE.
Que a ação acompanhe a boa intenção almejada e que nosso futuro seja de extrema prosperidade!
Ramiro Costa é acadêmico de Economia, sócio-fundador da Pinheiro e Costa Corretora de Seguros. Integra a diretoria de Novos Projetos da Odabá.