Muita gente, ou melhor, todos os que não são Lula, ou Bolsonaro, se queixam da polarização política. Eu prefiro usar Lula e Bolsonaro como polos dessa luta política do que esquerda e direita. Afinal, não há como negar, nem todos os lulistas são de esquerda e nem todos os bolsonaristas são de extrema direita, embora a maioria seja, reconheço, ultraconservadora (reacionária?)
Agora, quantos desses queixosos trabalham para furar essa polarização? Quem atua para evitar que a polarização nacional contamine a disputa municipal?
Tomo, para exemplo, a sucessão na Prefeitura de Porto Alegre. Bolsonaristas e seu rebanho e lulistas e seus militantes já têm candidatos definidos: o quase afogado prefeito Sebastião Melo, que, muito provável, terá um vice mais à direita, e a deputada federal Maria do Rosário que terá um vice à esquerda (psolista).
Outro pedaço da esquerda – importante aí no Rio Grande do Sul – o PCdoB, acho que ainda não se manifestou oficialmente, já que Manuela D’Avila, retrato mais bem acabado do partido, está nos Estados Unidos estudando políticas públicas.
Mas eu ouvi a boca pequena, como diziam os antigos, que tem gente pensando nela, Manuela, para ser candidata… Aí, veremos se o PT gaúcho segue a linha dos paulistanos que abriram mão da cabeça de chapa e apoiam Guilherme Boulos (PSol) contra o bolsonarismo emedebista, ou insiste naquela de exigir seguidores em vez de fechar alianças…
Então, voltando à polarização, que partidos podem meter uma cunha nessa disputa e abrir uma fresta por onde desaguariam os votos dos nem nem (nem Lula, nem Bolsonaro) ?
O brizolista PDT do ex-governador e ex-prefeito Alceu Collares e da neta do engenheiro, a ex-deputada Juliana Brizola? O tucano PSDB, do governador Eduardo Leite que, segundo o Datafolha, tem o trabalho durante as cheias de maio/junho aprovado por 35% e reprovada por 23% dos gaúchos (índices iguais aos de Lula, que tem aprovação de 36% e é reprovado por 32% dos gaúchos)?
Sem ninguém ocupando cargo de destaque na cena política, o PDT parece destinado a ser, mais uma vez, figurante na disputa pela prefeitura da capital gaúcha. Mas um figurante com lugar no primeiro plano nas negociações de um eventual segundo turno.
Já o PSDB, na administração do governo do estado e de 29 cidades – entre elas Caxias do Sul, Pelotas, Bento Gonçalves e Santa Maria –, teria discurso para sustentar uma candidatura em Porto Alegre. Os tucanos tentam se apresentar como a terceira via por onde transitariam os que desviam da polarização.
Mas o PSDB gaúcho sofre o mesmo que sofre o PSDB nacional. É uma via de várias mãos. E em política, como se sabe, quem tem muitos candidatos acaba por não ter nenhum.
Veja, leio que o governador Eduardo Leite já disse, seguido pela presidente estadual do PSDB, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, que apoia a candidatura do ex-prefeito Nelson Marchezan Jr. Aí, para alegria de lulistas e bolsonaristas, o que diz o presidente municipal do PSDB? Que Marchezan não está entre os preferidos e que há três nomes na frente dele…
Tivessem nossos partidos um pouquinho de firmeza de propósitos, de clareza ideológica, veriam, apenas com uma rápida olhada no resultado da última eleição municipal, a enorme aspiração popular por novas alternativas políticas. No primeiro turno, disputado por 12 candidatos, os três mais votados, somados, tiveram 523.605 votos.
Sabe quantos porto-alegrenses anularam o voto, votaram em branco pouco se lixando para quem ganhasse a eleição, ou simplesmente não foram votar no primeiro turno? Acredite: 436.971…
No segundo turno, a coisa se repete. Sebastião Melo foi eleito com 370.550 votos. Manuela D`Ávila conquistou 307.745 votos. O dois perderam para a soma dos votos nulos, em branco e abstenções, que chegou a 404.431 votos.
Então, espaço para desfazer a polarização existe. Só falta mostrar alternativas para o eleitorado. Falta os partidos entenderem que comunicação é fundamental. Não essa da véspera da eleição, quando todos os candidatos se apresentam como portadores da varinha mágica que resolve todos os problemas. Não essa do horário dos partidos – fora da época da eleição – no rádio e na TV, com aqueles chatos monólogos vazios…
Comunicação política, não propaganda eleitoral. Comunicação que acolha as aspirações populares, que ouça mais o cidadão, que preste mais atenção à carteira profissional e ao CPF e ao endereço do pessoal que ao título de eleitor…
Os partidos políticos deveriam ser os primeiros a fazer bom uso das redes sociais, usando essas ferramentas para reunir as pessoas e debater os problemas das cidades, suas carências e ouvir propostas para resolvê-las.
A tragédia climática deste ano mostrou que o povo, mobilizado por boas causas, não refuga trabalho. Que bom se os políticos aprenderem um pouco. Quem sabe, a gente não tem uma campanha eleitoral mais séria e que os vitoriosos não percam para votos brancos, nulos e abstenções.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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