Conheci o Coletivo Poa Inquieta por intermédio de uma amiga chamada Aline Bueno, na época ela era gestora do Centro Cultural Vila Flores e eu, residente numa casa colaborativa no Bonfim chamada Casa das Cidades. O convite se deu porque, desde que retornei de um longo período morando na Alemanha (5 anos!) abri um instituto de pesquisa e passei a desenvolver uma série de estudos tendo como foco comunidades em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
O instituto avaliava possibilidades para essas comunidades se desenvolverem, uma delas foi por meio da economia criativa, onde foi realizado o primeiro mapeamento de Porto Alegre. Fiquei muito impressionado com o potencial de crescimento do setor e de como ele teria condições de impactar positivamente todas as regiões da cidade.
De volta ao convite, estava com vontade de realizar um segundo mapeamento, dessa vez mais amplo e revisitando os empreendedores criativos entrevistados na primeira pesquisa, para poder utilizar esses dados para auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas para o setor.
Mas havia um problema, sendo um instituto privado, sem vinculação partidária e relativamente novo no cenário gaúcho, era muito difícil a captação de recursos para desenvolver tal estudo. Foi nesse momento que fui apresentado durante a primeira reunião aberta do coletivo sobre seus objetivos para com a cidade. Fiquei muito feliz ao constatar que o POA Inquieta tinha os mesmos objetivos: desenvolver a cidade por meio da Economia Criativa!
Desde aquela reunião na Associação Comercial de Porto Alegre, em 2018, muita coisa aconteceu. O 2° Mapeamento da Economia Criativa saiu do papel. Foi o mais completo já realizado e se tornou referência para o setor na cidade. Seu ápice foi a realização do Mercado Inquieto da Economia Criativa, que ocupou por dois dias toda a Casa de Cultura Mário Quintana. Foram realizadas oficinas, painéis, exposições, rodas de conversa, atrações culturais entre outras atividades. Uma intensa programação que apresentou à cidade uma rica miríade de práticas criativas, atraindo milhares de visitantes.
O coletivo seguiu crescendo, novos inquietos foram ingressando, trazendo junto com eles toda a diversidade que a cidade possui. As rodas foram se multiplicando e com elas, o alcance do POA Inquieta. Isso fez com que aquela pauta inicial de economia criativa fosse ampliada e especialmente, a participação cada vez mais intensa dentro das comunidades periféricas da cidade.
Esse segundo momento da transformação do coletivo se deu com a primeira missão de inquietos para Medellín, cidade que era reconhecida pela violência urbana e conseguiu realizar um processo de inovação social que tem servido de inspiração para todo o mundo. A partir dessa viagem, que, junto com importantes atores de nosso ecossistema tive o privilégio de participar em novembro de 2019, o Poa Inquieta intensificou este intercâmbio de saberes, convidando gestores públicos colombianos para Porto Alegre, realizando outras duas missões para Medellín (a próxima já tem data marcada para acontecer, de 5 a 11 de outubro).
Integrantes do POA Inquieta também desenvolveram estudos acadêmicos sobre temas que o coletivo trabalha. Foram formados mestres, doutores e pós doutores tendo como foco os processos de construção cidadã e a organicidade digital do coletivo.
Da minha parte, aproveitando esse espaço que me foi ofertado, gostaria de agradecer ao apoio desde o primeiro momento do inquieto Cesar Paz. Ele é incansável desde o minuto zero da história do coletivo. Também quero agradecer a cada um dos integrantes que, com suas histórias de vida, me servem de modelo e estímulo para seguir trabalhando na valorização da participação cidadã e na transformação através da escuta afetiva de nossa gente.
Acredito que ainda temos muito o que crescer, resistimos à pandemia, fomos resilientes sempre que preciso. Neste ano de 2023, avançaremos ainda mais com o 2º Congresso Popular de Educação para Cidadania, que aparece como uma grande vitrine sobre os rumos que o Poa Inquieta está se dirigindo, um caminho de valorização da participação comunitária, em regiões de vulnerabilidade e tendo a educação como base para a transformação social e o desenvolvimento econômico.
Cleiton Chiarel é cientista político, diretor do INSPE, chefe de divisão na diretoria técnica da Superintendência de Ensino Profissional do RS e articulador do Spin de Economia Criativa do POA Inquieta.
Foto da Capa: Matheus Bertelli / Pexels