Dá para controlar nossas preocupações? Eu achava que não, hoje tenho feito alguns exercícios com relativo sucesso. As preocupações e o estresse são as principais causas de ataques cardíacos e doenças estomacais. Em 2019 o Instituto Gallup mediu o estresse em 143 países e descobriu que mais de um terço dos entrevistados disseram sofrer de muito estresse. Os EUA é um dos líderes, sendo que os americanos mais estressados estão na faixa etária dos 15 aos 49 anos e entre os 20% mais pobres da população. Algumas das pessoas mais ricas do mundo também estão entre os mais estressados. Todos nós temos nossas preocupações, mas tem alguns que são “preocupadores profissionais”, quando não tem com o que se preocupar, temem ter esquecido alguma coisa que possa lhes causar preocupação: será que não esqueci a panela no fogo? – será que chaveei a porta ao sair? A preocupação se torna um hábito.
Eu tive acesso a um antigo livro de Dale Carnegie, intitulado Como evitar preocupações e começar a viver. Achei que essa fosse mais uma obra de autoajuda, mas na verdade ele é baseado em casos de histórias reais e dá boas dicas. Quero compartilhar com você algumas delas. Por exemplo, diante de uma preocupação que está lhe consumindo, estabeleça o pior cenário que poderá acontecer. Aceite que este cenário se tornará real e depois comece a buscar alternativas para melhorar esta situação. Em outras palavras, Carnegie diz que a confusão é a principal causa da preocupação, para enfrentá-la devemos identificar e escrever o que está nos preocupando. Sabendo claramente qual é o problema, podemos elencar as ações possíveis para resolvê-lo. Depois de decidir qual a melhor ação, é possível implantar a sua decisão e não olhar mais para trás. Diz ele que assim conseguimos eliminar 90% das nossas preocupações.
Os psicólogos e outros profissionais da área da saúde mental alertam para focarmos nossos pensamentos no presente. Esta ideia é ilustrada no livro com o exemplo da ampulheta, onde a parte de cima é o futuro, a de baixo o passado e a parte estreita, o presente. Se preocupar com o futuro é querer que toda a areia passe logo pelo gargalo. Imagine uma pessoa que foi contratada para lavar a louça de um pequeno restaurante. Se ela pensar na quantidade de louça que terá que lavar até a sua aposentadoria, certamente ficará desanimada, mas se focar na louça de cada dia, essa tarefa se tornará suportável.
Os problemas de relacionamento também são causas de grandes preocupações. Carnegie sugere que não desperdicemos tempo pensando nas pessoas que não gostamos. Ele considera inveja e críticas como elogios, pois as pessoas só fazem isto em relação a quem elas admiram. Diz ele: “ninguém chuta cachorro morto”. Se nessas horas a pessoa perder o sono, ela estará dando o seu sono para o desafeto. Se aumentar o seu estresse, está prejudicando a sua própria saúde. O melhor a fazer é perdoar a outra pessoa e esquecer, ninguém tem que se forçar a amar quem não gosta, e quando possível, se afaste de quem a presença não lhe faz bem. Algo semelhante ocorre quando esperamos gratidão ao fazer uma gentileza e ficamos desapontados quando não a recebemos. Uma boa medida é fazer a gentileza porque sente vontade de fazê-la, sem esperar nada em troca.
Os medos causam verdadeiros pavores nas pessoas, mesmo que não existam evidências para isto. Há quem tenha medo de viajar de avião ou de ser morto por uma bala perdida. As empresas de seguro ganham dinheiro explorando os temores das coisas improváveis de acontecerem. Há quem faça seguro para cobrir as despesas se um avião cair em cima da sua casa. Isto se combate mostrando para estas pessoas a probabilidade deste fato vir a acontecer. Ao perceberem que é mais provável que um raio caia na sua casa do que um avião, irão perder este medo. Outra situação é o tal do “chorar pelo leite derramado”. Obviamente devemos tomar cuidado para não derramar o leite, mas depois que ele foi para o ralo, nem todo o choro do mundo o trará de volta. Eu conheço pessoas que compram um produto e depois continuam pesquisando os preços para ver se encontram este produto mais barato em outra loja. Um exercício de puro masoquismo.
Eu adoro a música “Don’t worry, be happy”, mas a sua mensagem é irreal. A preocupação é inevitável e, até certo nível, é uma forma de evitar o perigo. Portanto, não se trata de negar a preocupação, mas sim de administrá-la. A palavra “pré-ocupar” significa ocupar antes da hora. O que se pode fazer é deixar de se preocupar para ficar ocupado na hora certa e fazer algo para resolver o problema, como nos exemplos citados acima. Vale a pena tentar.
“Nossa vida é o que os nossos pensamentos a tornam.” (Imperador Romano Marco Aurélio).