Uma coisa é certa, a idade é a primeira coisa que percebemos em alguém. É a primeira informação que chega quando enxergamos e, mesmo, escutamos uma pessoa. E baseados nessa percepção uma série de pensamentos e sentimentos a gente vai engatilhar, positivos ou negativos. A isso chamamos idadismo, etarismo ou ageísmo. No caso da velhice, por estudos, sabemos que a maioria são negativos. E estes julgamentos, rótulos (mesmo os aparentemente positivos), acontecem no cotidiano da sociedade, entre as pessoas e com a gente mesmo.
Semana que passou fui fazer avaliação com a fisioterapeuta, pois estou com uma dor na patela do joelho. Enquanto contava o que tinha acontecido, disse a minha idade e sobre a desconfiança inicial de que poderia ser algo ligado a falta de colágeno causado pelo processo de menopausa. Ela então respondeu que eu não aparentava a idade citada, que eu parecia ter “uns quarenta” e, por isso, nem teria cogitado a hipótese do colágeno. O que você acha a respeito? Fico contente porque não aparento a idade ou preocupada, porque – se não aparento – a profissional nem ia me questionar sobre uma possível causa do problema?
A idade pode ser definida de algumas maneiras… Na gerontologia social, a idade abrange um conjunto mais amplo de aspectos relacionados ao envelhecimento. A idade é vista a partir de uma perspectiva multidimensional, onde outros fatores interferem nessa percepção:
- Idade cronológica: Refere-se à quantidade de anos que uma pessoa viveu. Este é o conceito mais comum de idade. Aquele que normalmente respondemos quando nos perguntam: “Quantos anos você tem?”. Com relação a ele, por exemplo, perguntar a idade para homens não é uma questão, enquanto que para mulheres, de qualquer idade, é. Isso porque a passagem do tempo para nós é muito mais cobrada do que para eles… Mas isso é assunto para outro dia.
- Idade biológica: Está relacionada à condição física e biológica da pessoa. Fatores como a saúde física, capacidade funcional e a presença de doenças crônicas influenciam a percepção da idade biológica. Simplificando, muito, é o significado daquela expressão “Fulano/a está acabado/a pra idade que tem”, “Beltrana/o está a capa da gaita, nem parece que a idade que tem”.
- Idade psicológica: Refere-se ao funcionamento cognitivo, emocional e psicológico da pessoa. Envolve aspectos como memória, flexibilidade mental e a forma como lidamos com as mudanças relacionadas ao envelhecimento. Aqui, o autoidadismo, a expectativa frente ao que imaginamos que significa a velhice, nosso comportamento e estilo de vida, interferem na nossa saúde mental e, consequentemente, na vitalidade, na curiosidade e bom humor frente a vida que sentiremos, o que muitos irão nomear como “jovialidade”.
- Idade social: Está vinculada aos papéis e expectativas que a sociedade atribui a pessoas de diferentes idades. O conceito de “idade social” abrange normas sociais, comportamentos e expectativas culturais que variam conforme a sociedade e o período histórico. Por exemplo, outro dia, o namorado da minha filha foi consultar com um neurologista. Enquanto me falava sobre o profissional, me dizia que ele era de confiança dele e dos pais, pois já era um médico “mais velho”. Enquanto isso, outros podem chegar num consultório de um/a jovem médico/a e se sentirem inseguros por causa da sua juventude, imaginando que isso é fator de falta de competência.
A idade não nos define?
Sim, a idade nos define em vários aspectos. Não apenas como um fator individual, mas como nos relacionamos com o ambiente no qual estamos inseridos, social, político e econômico. Os outros nos olham e nos definem por conta da percepção da nossa idade, da cor, da aparência, do nosso comportamento implícito e explícito. O julgamento é parte da essência humana. Ele existe. Você e eu cometemos ele. Talvez nos chamem de velho/a, idoso/a, sênior. O que sentimos e fazemos a partir do julgamento do outro é o que nos diferencia. Deixaremos que o julgamento alheio nos afete?
A idade não me define?
De que maneira você permite que a sua idade te defina? Eu me orgulho da caminhada que fiz chegados meus 57 anos. A trajetória me fez quem sou até aqui. Cada dia aprendo algo, mudo um tanto. E daqui a cinco, dez ou vinte anos, se chegar até lá, serei outra Karen. Imagino que, com o passar do tempo, fisicamente mais frágil, espero que mentalmente ainda ágil, mas acredito que a idade vai nos redefinindo a cada momento, desde que estejamos dispostos e abertos a fluir com o que a vida nos apresenta. O tempo chega para todos, mas só amadurece os interessados. Assim, todos envelhecemos, com a graça da idade que avança, se tudo der certo.
Atrasando o envelhecimento?
Essa semana o Jornal O Estado de São Paulo publicou uma reportagem com o título “Idade é só um número: saiba o que de fato acelera o envelhecimento – e como atrasar o processo”. Lembre-se: palavras revelam nossos pensamentos, que expõem nossos sentimentos! E esse título ostenta todo o nosso idadismo a respeito da velhice e do envelhecer, em que equivocadamente se fala em “acelerar” ou “atrasar” o envelhecimento, como se fosse possível controlar, quando sabemos que estamos à mercê do tempo. Também porque cita a possibilidade de “atrasar o envelhecimento” por quê? Porque se subtende que envelhecer é algo ruim, negativo, cheio de doenças embutidas nesse processo.
Atrasando o envelhecimento para não chegar onde?
E vamos esclarecer: velhice não é doença. Ninguém morre de velho ou de velhice. Morreremos em decorrência de um declínio, que pode ser lento e gradual, ou de um desmoronamento em nosso ciclo de vida, por conta de uma trajetória mais ou menos vulnerável, mais ou menos abusiva. Assim, é possível que a vida de alguém seja encurtada por conta do número de doenças que se abaterão sobre ela ou a gravidade de alguma delas, por conta de uma série de fatores. Mas isso faz parte do nosso ciclo de vida! A natureza nos ensina que todos nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Isso acontecerá desde a flor, as árvores, os animais e conosco, que dela fazemos parte.
Desde que nascemos corremos o risco de morrer. Com menor probabilidade, é verdade. Mas se a criança mora numa região em guerra, ou de baixo índice de desenvolvimento humano, ou de grande violência urbana, por exemplo, o alto risco está lá. Porém, vivemos na fantasia de que ele não existe e com o passar do tempo vamos nos dar conta da sua existência quando percebemos que estamos envelhecendo. Mas a vida acontece até nosso último dia. Como diz aquele dito que não sei de onde veio, mas acho perfeito: “o presente é um presente”, por que que querer atrasá-lo ou acelerá-lo?
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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