Este não é um texto sobre como passamos 24 horas por dia, sete dias por semana conectados, embora pudesse ser. Tampouco se trata de uma coluna sobre os benefícios de tirar uns dias de folga total dos compromissos e fazer apenas o que dá na telha – de preferência sem celulares, computadores ou qualquer fonte de informação por perto, ainda que eu tenha cogitado falar nisso. Depois de um mês sem o compromisso de escrever semanalmente neste espaço, quero falar justamente sobre a importância de parar de vez em quando. E respirar.
Nem é preciso estar bem informado para saber – sentir? – que a saúde mental, especialmente desde a pandemia da Covid-19, é um problema sério que afeta a muito mais gente do que gostaríamos de imaginar (nós mesmos aí incluídos). Basta uma voltinha pela rede social mais próxima para ver o tanto de (auto)diagnósticos que passam pelos nossos feeds. De depressão a ansiedade, de TDAH a TAG, burnout e bipolaridade, a sensação é de que quase todo mundo tem um CID para chamar de seu. Talvez eu mesma tenha o meu, mas ainda não é sobre isso que quero falar. Antes, deixa eu respirar um pouco.
A lista que segue é de sintomas de diferentes condições que geram sofrimento psíquico, algumas vezes em níveis incapacitantes: cansaço excessivo, físico e mental; dor de cabeça frequente; alterações no apetite; insônia; dificuldades de concentração; sentimentos de fracasso e insegurança; negatividade constante; sentimentos de derrota e desesperança; sentimentos de incompetência; alterações repentinas de humor; isolamento; fadiga; pressão alta; dores musculares; problemas gastrointestinais; alteração nos batimentos cardíacos. Eu acrescentaria ainda “esquecer de respirar”. Quantos desses sintomas lhe parecem familiares? Aqui, dependendo do dia, não fica nem um de fora. De ficar sem ar.
Se está duro para trabalhadores com contrato e direitos trabalhistas (mais ou menos, que seja) garantidos pela lei, profissionais autônomos, como eu, não têm férias remuneradas. Se não se organizarem direito, não têm nem sequer finais de semana ou tempo ocioso dentro de casa. Quem tem filhos, menos ainda. As férias das crianças, aliás, representam uma quebra da rotina que muitas vezes é o alento de quem precisa encaixar na agenda mais tempo de qualidade com as crias – muitas vezes elas próprias estressadas com o próprio cotidiano em que mal conseguem respirar.
Pelo menos se tivéssemos dinheiro no banco e tempo no calendário para passarmos vários dias “no bem bom”, tendo nossas vontades atendidas em um resort all-inclusive à beira de um mar tranquilo de águas cristalinas, certo? Não exatamente! Viajar (especialmente em família) costuma incluir planejamentos e perrengues que, ainda que de modo geral compensem, cansam, fazendo que torçamos para voltar à rotina do trabalho e descansar. Para o bem e para o mal, perdemos o fôlego.
Na semana passada, vendo ver minha irritação com a absoluta incompetência e o inacreditável descaso da CEEE Equatorial no (péssimo) atendimento aos clientes depois do temporal do último dia 17, minha filha me disse o que costumamos naturalmente dizer quando vemos alguém irritado: “Calma, mãe!” Minha resposta? “Eu estou calma! Não me diz pra ficar calma”, retruquei, em tom áspero. Diante da perplexidade dela por conta da minha contradição evidente, completei, já meio rindo: “Eu só não estou respirando direito. Quando eu estiver assim, diz pra eu respirar”.
Inspirei e expirei algumas vezes. A pausa não fez a luz voltar. Minha irritação continuava lá. O tempo não passou mais rápido ou mais devagar. Meus boletos continuaram à espera do pagamento. Mas o simples fato de, naquele momento, focar a atenção no que meu corpo faz o tempo todo sem meu comando consciente mudou tudo. Porque eu respirei.
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