Ler, escrever, compartilhar, conversar. Assim me mantenho conectada com a vida que pulsa por todos os lados e amplio os horizontes da luta necessária. É o que desejo fazer neste espaço. O convite do Luiz Fernando Moraes me emocionou muito. Trocar experiências, inquietações e sonhos, a partir de reflexões sobre o cotidiano de pessoas que, como eu, têm uma diferença, é um desafio que estimula a minha esperança. Digo isso porque a diferença, queiramos ou não, exclui e acende o preconceito – limite triste de uma sociedade que se recusa a ver e aceitar o diverso.
E assim nos joga em um terreno incerto que alimenta fetiches, clichês, piadas, heroísmo e vitimização. Há que se ter sabedoria e sensibilidade para lidar com uma condição que corre o risco de cair em uma espécie de limbo cheio de silêncios e olhares invasivos, que contamina o enfrentamento necessário. Evitar estereótipos e saudar a diversidade humana é o caminho.
O desejo de falar sobre o impacto da diferença e do quanto o convívio é duro fez parte de muitas conversas que Marlene, minha irmã, e eu tínhamos cotidianamente. Encarar uma vida com o nanismo, portanto cheia de limites, em uma época em que não se falava de inclusão e acessibilidade, foi desafiador desde a infância. E ainda é! Pensar a diferença de maneira ampla, a partir da perspectiva inclusiva ampliou meus horizontes. E contrapor-se ao preconceito, hoje com novos e perigosos impulsos, tornou-se urgente.
As dificuldades enfrentadas pelas pessoas com nanismo no dia a dia são inúmeras e, em determinadas situações, me parecem quase incontornáveis porque uma boa camada da população, em todos os níveis, não vê o outro. Precisamos desacomodar conceitos seculares e enraizados, que rotulam e descriminam, para mostrar que a sociedade é o resultado da soma de diferenças e não de indivíduos hipoteticamente iguais.
Sempre digo que para além da eliminação de barreiras físicas, acessibilidade é cidadania, direito social, independência, capacidade de acolher sem julgamentos. “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, canta Caetano Veloso, que também diz que “de perto ninguém é normal”. O caminho é longo, mas estou na estrada. Sempre estive.