Dois pesos e duas medidas. Como fica a população nesta balança?
Estamos vivendo tantas tragédias, tantas demandas, tantas incertezas, tanta insegurança e as inúmeras perguntas que fazemos quase sempre ficam sem respostas. Na linha de frente, um descarte desmedido do serviço público e uma aposta sem limites na privatização. Teoricamente, tais medidas são tomadas para “resolver” problemas econômicos de estados e municípios e “modernizar” o sistema, mas me parece mais uma adequação às exigências do capital financeiro, que só visa o acúmulo e o lucro. Na verdade, nada é claro. E poucos se dão conta que a qualidade de vida nos ambientes urbanos “contemporâneos” está se esvaindo, se deteriorando. Perdemos todos. Se olharmos para São Paulo e Rio de Janeiro, cidades emblemáticas no Brasil, esta constatação fica ainda mais evidente. A primeira é a que tem a maior população, além de ser a capital do estado que é o centro financeiro e econômico do país. A segunda é a “cidade maravilhosa”, que se destaca pela paisagem cartão-postal, um dos lugares mais procurados por turistas no mundo.
Ambas vivem tragédias ambientais graves, que estão se tornando rotineiras, mas quero mesmo é falar da nossa capital, Porto Alegre. Hoje mais triste que alegre.
Aqui as questões ambientais e o descaso são preocupantes. Posso até estar exagerando, mas o que vejo é uma cidade abandonada, tamanha a desumanização, a miséria, a deterioração das calçadas e a sujeira que encontramos nas ruas. Basta uma volta na quadra. Lixo espalhado, containers abarrotados ou destruídos, mau cheiro. Tenho consciência que a responsabilidade é de quem não descarta o lixo como deveria, mas é principalmente do poder público que não observa o entorno e os movimentos da natureza, não faz o que realmente precisa ser feito, não orienta e não fiscaliza como deveria. Como se isso não bastasse, nas últimas semanas tivemos falta de energia elétrica e de água, situações bem graves que foram negligenciadas e acompanhadas pelas explicações irresponsáveis das empresas responsáveis e das autoridades.
A pergunta que fica é: por que minimizam tanto o serviço público? Por que o descarte desenfreado de trabalhadores que sabiam o que estavam fazendo? A privatização vai mesmo resolver os problemas financeiros que os governos dizem enfrentar? Será que não é possível transformar o “pesado” compromisso dos que se elegeram em uma busca de soluções coletivas, com a participação efetiva das comunidades, sem a politicagem bizarra e medíocre? É urgente encarar essa discussão. Mais urgente ainda é entender que privatizar serviços básicos, essenciais para a população, como o fornecimento de água potável e de luz, não é solução. Basta olhar para o caos que vivemos nas últimas semanas, e ainda vamos viver, sem respostas e soluções efetivas.
Pagamos impostos para quê, afinal?
Mas o desrespeito não para por aí, não! A irresponsabilidade é evidente também quando os governos partem para a liberação desenfreada do trabalho de empresas de construção que erguem “mastodontes de janelas pequenas”, grudados uns nos outros, sem observar as regras mínimas do meio ambiente e da convivência saudável, o que só torna as cidades mais cinzas e vulneráveis. Infringem todas as leis, as naturais e as dos homens, impulsionados por interesses próprios e uma ganância sem limites. Um modelo de urbanidade ambicioso e egoísta.
Não sou da área, mas sou observadora e vou fazer uma última observação. Quando vejo trabalhadores colocando asfalto em algumas ruas, sem deixar um respiro de terra entre a rua e a calçada para que a água da chuva possa ser absorvida, penso que falta experiência e conhecimento, o que é fundamental, e sobra descaso.
A natureza já deu todos os sinais possíveis. Mas quem se importa?