E aí, tudo bem? Tá meio sumido do grupo, o que houve?
Mandei, via WhatsApp, essas perguntas para um amigo. Um de muitos que, até a chegada do Coronavírus, se reuniam presencialmente, pelos menos uma vez por semana há meio século.
Com isolamento social por causa da Covid, eles criaram um grupo no WhatsApp, que se mantém até hoje, enquanto os encontros presenciais são cada vez mais raros. Mas os assuntos são os mesmos sempre: todos e qualquer um.
Só o desfecho das discussões tem sido diferente. Repito as perguntas, deixo vocês lendo a resposta do meu amigo e volto em seguida para seguir neste papo:
– E aí, tudo bem? Tá meio sumido do grupo, o que houve?
– Não. Fico por aí, leio as ‘abobrinhas’ e sigo em frente. Algumas, aliás, várias, deleto na hora. Eu já disse lá atrás, há muito tempo: aos quarenta e cinco do segundo tempo, ninguém vai mudar de lado, mesmo que o cara se decepcione com as figuras “eleitas”, ninguém vai dizer: Ah! Agora vou mudar de lado!
Mas tem uma coisa que faz uma diferença muito grande: a palavra falada e a palavra escrita! Já vi em vários grupos, de amigos, família, isso que ocorre toda hora em qualquer dessas redes sociais, que deixam as pessoas cada vez mais antissociais”: sai uma postagem: não gostei; fui!
É completamente diferente a discussão presencial da virtual! Então, eu me abstenho de escrever, especialmente sobre política e futebol, que são os assuntos permanentes.
A escrita fica ali, presente, fria, com os rancores não disfarçados, diferentemente da ‘mesa do bar’, por exemplo, onde o calor da discussão se mistura com a camaradagem de toda a vida.
Tenho visto cada postagem de alguns amigos que me deixam estarrecido!
Descobrem cada “guru” que vou te contar!
Claro que estou falando de escrita coloquial, essa virtual que está substituindo a conversa presencial que sempre curtimos.
E, além disso, estou na ativa, né? Quando li tua mensagem, tinha chegado de viagem; antes, tinha me organizado, preparei um rango, tal, e agora que aliviei.
Outra hora te ligo pra conversar ao vivo e a cores!
Abração.
Eu, aqui de novo. Esse texto é uma excelente amostra dos efeitos colaterais das conversas escritas nas chamadas redes sociais. Meu amigo tem toda a razão quando alerta para a diferença entre discussão presencial e a virtual. Afinal, o corpo fala. Por exemplo, numa roda de conversa cara a cara, ninguém levanta e vai embora só porque não concorda com algo que ouviu. Nessa comunicação à distância, o incomodado simplesmente sai do grupo. Sem dar explicação, sem contraditar. E pronto. Pode ser uma amizade desfeita, um parentesco abalado…
Sabe por quê? Porque um OLHAQUI ÔÔÔ! SÓ TU NÃO VÊS QUE O CARA ENGANOU TODO MUNDO! escrito assim, com maiúsculas, à distância, é bem diferente das mesmas frases pronunciadas cara a cara, quando quem ouve pode ver na expressão de quem diz, não raiva, mas um alerta sincero e amistoso.
A comunicação à distância é assim. Muitas vezes, o seu interlocutor não lê aquilo que você quis dizer. Ele lê aquilo que temia ouvir, ou porque já sabia, ou porque não tem como contestar. Aí, a saída… a saída é sair do grupo.
A lembrança do meu amigo de conversar ao vivo e a cores rendeu. Nosso grupo adotou uma singela fórmula de evitar esses desentendimentos e essa desinformação gerados nas conversas à distância: agora, nos reunimos em vídeo calls (chamadas de vídeo no antigo idioma nacional).
Essas plataformas virtuais, esses aplicativos de troca de mensagem, ainda que precariamente, permitem a conversa cara a cara, olho no olho.
É só seguir umas regrinhas: todo mundo com câmera e microfone abertos, ninguém pode ficar mais de dois minutos em silêncio, todos têm direito a vaias e aplausos. E, por último, mas não menos importante: ninguém pode dizer nada em que não acredite. Esta é a melhor vacina contra a desinformação espalhada pelas fake news, porque os caras espalham bobagens que nem eles acreditam. Tchau.
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