Porto Alegre sofreu a maior enchente da história, deixando um rastro de destruição e incerteza. Nesse momento de crise, o prefeito Sebastião Melo anunciou a contratação de uma empresa internacional, a norte-americana Alvarez & Marsal, para elaborar o plano de recuperação da cidade. Importante destacar que o governo do RS, por meio do governador Eduardo Leite, também fez uma parceria com a empresa, porém somente a prefeitura firmou um contrato. Esta decisão levanta uma questão crucial: por que não confiar nos nossos próprios profissionais, que conhecem intimamente as necessidades e as peculiaridades do nosso estado?
O Rio Grande do Sul é um celeiro de talentos em diversas áreas, incluindo Administração, Economia, Engenharia, Arquitetura e Urbanismo. Temos instituições de ensino renomadas, que formam profissionais de excelência, capazes de lidar com desafios complexos e propor soluções inovadoras. A UFRGS, por exemplo, é a 3ª melhor universidade do Brasil, de acordo com o Ranking da Folha, e a 18ª melhor da América Latina, pela QS World University Ranking Instituições que inclusive alertavam do problema meteorológico que estava por vir.
Contratar uma empresa estrangeira para um projeto dessa magnitude é não apenas desconsiderar a competência dos nossos profissionais, mas também retirar oportunidades de geração de emprego e valorização do conhecimento local. Ao escolher uma empresa estrangeira, o prefeito deixa de reconhecer o valor inestimável dos administradores, engenheiros, arquitetos, economistas e urbanistas do Rio Grande do Sul. São esses profissionais que, com conhecimento, experiência e paixão, têm a capacidade de liderar um processo de recuperação robusto e sustentável, adaptado às necessidades específicas da nossa cidade.
Os administradores gaúchos, por exemplo, possuem um profundo entendimento das dinâmicas econômicas e sociais do nosso estado. São profissionais qualificados que poderiam liderar com maestria a gestão e a coordenação de um projeto de recuperação, garantindo uma abordagem eficiente e personalizada. Além disso, economistas, engenheiros, arquitetos e urbanistas locais têm a expertise técnica necessária para desenhar e implementar soluções estruturais que considerem as particularidades geográficas e climáticas da nossa região.
Trazer uma empresa estrangeira para assumir essa responsabilidade representa um desinvestimento no nosso capital humano, como também implica em um custo financeiro significativo, que poderia ser melhor aproveitado se direcionado para capacitar ainda mais nossos próprios profissionais. Há uma vasta gama de talentos no Rio Grande do Sul que, além de serem tecnicamente competentes, estão profundamente comprometidos com o desenvolvimento sustentável e a resiliência da nossa comunidade.
Essa decisão do prefeito Melo parece ignorar a riqueza de conhecimentos e habilidades que temos à disposição. É um equívoco que não só desmoraliza nossos profissionais, mas também deixa de fomentar o crescimento econômico e o desenvolvimento das nossas instituições de ensino e pesquisa. Precisamos de políticas que incentivem a utilização dos recursos locais, promovendo a geração de empregos e fortalecendo a economia regional.
Em um momento tão crítico como este, é essencial que as decisões políticas reflitam um compromisso com o fortalecimento das capacidades locais. Precisamos de um plano de recuperação que não apenas reconstrua Porto Alegre, mas que também valorize e aproveite os talentos da nossa terra. É através do apoio aos nossos próprios profissionais que conseguiremos construir uma cidade mais resiliente, inovadora e preparada para enfrentar os desafios futuros.
Assim, faço um apelo ao prefeito Melo e a todas as lideranças políticas: confiem nos nossos profissionais. Eles são a chave para uma recuperação eficaz e duradoura de Porto Alegre. Vamos valorizar e investir naqueles que têm o conhecimento, a habilidade e o desejo de reconstruir nossa cidade com dedicação e competência. No momento em que o povo gaúcho se une para superar a crise, os mandatários ignoram esse mesmo povo. Pense nisso!
Foto da Capa: Prédio onde está a sede da Alvarez & Marsal, em Nova Iorque. | Ruben Companies
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