Hoje é um dia para celebrar. Nada de ficar naquelas de que não temos o que comemorar. Tenho participado e ficado sabendo de várias iniciativas promovidas por mulheres… O que precisamos é espalhar por todos os cantos o tanto que mulheres potentes andam fazendo a diferença por aí. Neste 8 de março, quero dedicar a todas elas – algumas vou citar a seguir – minha homenagem por tudo que elas têm feito para deixar o mundo um pouco melhor. Na verdade, elas vão fazendo coisas, que para uns seria impossível. Mas pelo jeito que elas conduzem, o contexto vai se transformando, vai se tornando realidade. Piano, piano, se vá lontano, diz o ditado italiano. Ou em bom português: devagar e sempre.
Arquitetura que faz a diferença
No final de semana passado, participei de atividades completamente fora da curva. No sábado, dia 2 de março, participei de um mutirão para ressignificação do espaço do Instituto Ecoa. Para quem não conhece, essa organização é a que a super Natália Soares é a presidente. Ela, junto com outras mulheres, realiza diversas ações para melhorar a vida de outras representantes do sexo feminino. Ensinam corte e costura, confeccionam produtos reaproveitando sombrinhas, guarda-chuvas, sacos de ração, guarda-sóis entre outros materiais, promovem cursos para pessoas de baixa renda terem um uma formação, entre muitas outras coisas. As mulheres do Ecoa merecem reconhecimento da sociedade. Assim como a Rita de Cassia Reckzigel Bersch, a proprietária da grande casa, que disponibilizou o espaço para que o instituto pudesse fazer essas atividades. Fiz uma live com elas, confira aqui no Instagram.
E o Instituto Ecoa foi selecionado pela Du99 para sofrer uma transformação de várias salas e ambientes. O trabalho, capitaneado pela arquiteta Aline Fuhrmeister, contou com a participação de mais de 50 voluntários. Mergulhei fundo para deixar o pátio externo, ou melhor, o jardim, bem aprazível. Minhas amigas Lara ten Caten e Juliet Davis, que moram na Inglaterra, foram junto e adoraram colocar a mão na massa. A função toda contou com a ajuda de alguns homens. Mas os projetos e a maior parte das atividades foram feitos por elas. Aline explica que o 99 vem de uma pesquisa que diz que 1% da população mundial tem condições de contratar um arquiteto. Ela diz que o seu propósito de vida é levar a arquitetura para esses 99% da população. “Mas não é só a arquitetura da beleza, mas a da funcionalidade, da saúde pública, porque espaços bem projetados, bem ventilados, bem iluminados melhoram a qualidade de vida das pessoas,” explica. Desde 2016, ela e voluntárias e voluntários vem transformando espaços como ONGs, instituições, áreas degradadas da cidade, escolas.
Mulheres Artistas
No domingo, dia 3 de março, conheci outras mulheres que estão colocando no mundo outras formas de perceber o que nos cerca através da arte. Com um grupo organizado pelo artista Cho Dornelles, participei de uma excursão onde visitamos três ateliês em Gramado e Canela. Adorei o grupo, conheci outra arquiteta muito especial: a Madalena Fuke, descendente de japoneses que tem uma forte atuação na disseminação da cultura nipônica. Fui e voltei sentada ao seu lado e aprendi tantas coisas, fiquei sabendo tantas histórias. Precisamos de mais mulheres como ela para melhorarmos a cidade, em especial as praças com pegada oriental.
As artistas que visitamos são completamente diferentes umas das outras. A Rita Gil pinta, faz cerâmica, apresenta telas e esculturas que utilizam elementos da imigração europeia, da natureza e de uma brasilidade expressiva. Muito colorido, por vezes, naif, ela se vale também de um olha feminino de contextos onde está inserida. Já Kira Luá, nos deu uma aula sobre sua trajetória, suas inspirações, que vão desde o Zen Budismo à célula, às representações cênicas. O ateliê dela é o sonho de consumo de qualquer artista. Fica no meio de um mato de araucárias e xaxins com esculturas de vários tamanhos. Um ponto turístico desperdiçado pela administração pública. Fiquei chocada de ver um local tão magnífico pouco valorizado. Ela tem uma mini galeria com peças de encher os olhos de colecionadores mais exigentes.
Por fim, amei conhecer a Beatriz Dagnese, uma artista dos mínimos detalhes, que inventou um jeito super peculiar para se expressar através do desenho com linhas finíssimas em um papel preto. Beatriz é outra artista esplêndida que abriu seu canto para mostrar centenas de trabalhos que vem fazendo ao longo dos anos. A Serra gaúcha bem que podia ter mais espaços para arte local, né? Confira as imagens e lives no meu Insta @silmarcuzzo.
Mulheres fora da curva
Há outras mulheres que vem me chamando atenção nos últimos tempos. E o que estão fazendo é resultado de uma trajetória de desafios, é claro. Normal. Sempre precisamos nos esforçar muito mais para conquistarmos avanços civilizatórios. Mas o jeito que a Dayse Rocha, gestora do Parque Estadual de Itapuã, precisa ser valorizado. Assim como outros anos, ela está agitando uma programação especial hoje, alusiva ao dia das mulheres no parque. Será um evento com trilha, roda de conversa e almoço na Praia das Pombas. Contará com a participação da desembargadora Marcia Kern, do TJRS, que atua com violência doméstica. Mas não é só por isso.
Ela vem inovando na gestão da Unidade de Conservação, contratando mulheres e colocando-as em postos onde antes eram só de homens. Hoje, há quatro líderes da vigilância e duas são mulheres. “Está bem paritário. A primeira mulher foi eu que coloquei no parque. E venho discutindo bastante com as empresas que têm uma resistência na contratação de mulheres,” informa. Para ela, as pautas precisam ser transversais. “A gente não pode falar de meio ambiente se a gente não fala de saúde mental, de saúde das mulheres, dessa coisa de gênero, dessa pauta de gênero”. E, para quem ainda não foi ao Parque, conto que somos recepcionadas por uma trans que está desempenhando super bem sua função.
Outra mulher que conheci no ano passado, por intermédio de outra maravilhosa, a colunista aqui do Sler, a inquieta Karen Garcia de Farias, é a Lila, a Marília Rizzon. Ela vem fazendo um trabalho de fôlego, de tirar o chapéu. A Lila vem estudando a fundo, desde 2021, o feminismo e a nova cosmologia. Ela me contou que sentia um incômodo que não sabia nomear. Até que foi fazendo conexões, pesquisas e entendeu que era o patriarcado. Eis as palavras dela: “daí entendi que o patriarcado é como uma hidra! Ele é a narrativa principal que move a gente a partir de um paradigma de dominação que se aplica a tudo, raças, sexo superior e inferior. E que isso justifica todo tipo de dominação, opressão e violência. E depois que a gente entende que existe um paradigma que guia tudo, daí tu começas identificar vários contextos”. Lila revela que o foi esse o contexto que a fez colocar no mundo o livro Reviravolta no Céu – uma revisão feminista da Astrologia.
Atualmente, ela vem dando cursos para mulheres e está prestes a lançar, no dia 20 de março, um clube de astrologia para mulheres A ideia é colocar para o debate livros de autoras como Bell Hooks, Audre Lorde, entre outras, lidos pelas lentes do que ela batizou de “Astrologia Mulheril”.
Acredito que se nós, mulheres, valorizamos mais nossa união, colaborarmos mais entre nós, do que competirmos (algo utilizado para provocar a cisão), todas nós sairemos ganhando. Aliás, não só nós, mas o mundo inteiro, o planeta, a Via Láctea, e, principalmente: as futuras gerações.
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Fotos: Acervo da autora