Sabe Deus por quê, sempre gostei de ler sobre etiqueta. Em casa, sempre havia livros sobre o assunto e, quando menina, com 12, 13 anos, eu achava fascinante aprender sobre como arrumar diferentes tipos de mesa, como se vestir adequadamente para ocasiões sociais e que tipo de pratos servir e quando. Não lembro da autoria desses livros, mas, como resultado dessas leituras adolescentes, nunca me apavorei ao ver uma fileira enorme de talheres ao lado dos pratos, sempre botei o guardanapo no colo na hora da refeição e, apesar de não ter tido (nem querido ter) a oportunidade, não me apertaria para comer escargot.
Claro que o fato de conhecer as regras de bom convívio social não significa que eu as cumpra sempre. Eu falo alto, falo mais palavrões do que gostaria, cometo gafes e indiscrições e como mais rápido do que deveria – entre tantos outros defeitos que vou parar de listar para não começar a ter problemas de autoestima. De modo geral, porém, me guio por uma regrinha básica que procuro cumprir em todos os momentos da minha vida: se alguma atitude minha pode afetar a vida de outra pessoa, presto bastante atenção e tento ser o menos intrusiva possível (também conhecido como não fazer com os outros o que não queremos que façam conosco).
Com essa premissa em mente, acredito que, se tem um momento em que o caráter mais profundo de alguém se revela, é o comportamento em um bufê. Diante dessa invenção moderna, costumo presenciar atitudes que me deixam com medo, muito medo, pela humanidade – e ao mesmo tempo me fazem entender como chegamos onde estamos como sociedade. Porque se as pessoas agem de um jeito bárbaro no momento sagrado que é a refeição, calcule-se o que fazem no resto do tempo.
Vai daqui, portanto, meu Micro Manual de Comportamento em Bufês, que eu mesma procuro cumprir à risca, porque, como já disse, a forma como me porto ali diz muito sobre mim.
1 – Não mexa nos cabelos enquanto está se servindo. Também não coce a cabeça, não coce o nariz, não espirre ou tussa sobre a salada. A história animadíssima que quer contar para o colega comensal? Deixe para depois de estarem sentado à mesa. Preserve os alimentos que estão expostos dos seus perdigotos.
2 – Antes de começar a se servir, dê uma olhada geral para os pratos que estão ali e monte mentalmente o prato antes de entrar em ação. Isso vai evitar que você (1) se sirva de mais do que o necessário, (2) misture coisas improváveis como moqueca de peixe com porco agridoce (eu já vi isso num prato), (3) prender a fila tendo de decidir tudo na hora e demorando muito ao fazer isso.
3 – Quando for se servir de alimentos em pedaços, pelo amor de Deus não cutuque trocentos deles antes de se servir de um. Também não revire todos e busque aquele que está lá no fundo. E mais: se quiser o pedaço de frango sem pele, deixe para tirá-la no seu prato.
4 – No caso de pratos que são colocados inteiros no bufê, lembre-se de que várias pessoas vão se servir também, pagando o mesmo preço que você. Por isso, nada de tirar toda a cobertura de queijo tostadinho da lasanha, de se servir apenas do recheio da quiche ou (isso eu vi acontecer algumas vezes, juro) varrer 80% das ameixas que estão sobre o manjar de coco de 12 porções para dentro do seu prato.
5 – Mesmo que você tenha horário e esteja atrás de um lerdo (um erro não justifica outro), não cole na traseira da criatura nem fique bufando na nuca do colega comensal. Como pode ser que em pleno 2023 as pessoas ainda achem que uma fila andará mais rápido se estiver bem compactada?
Simples, não? No mais, boa refeição!