Líder em todas as pesquisas de intenção de voto recentes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como a única opção viável da esquerda para as eleições presidenciais de 2022. Não há outro candidato que se mostre viável. A direita também está fragmentada. Entre os pré-candidatos, ainda falta nome ou chapa de peso para disputar com o petista. E é Bolsonaro que lidera neste campo.
A direita divide-se entre um lado mais radical, que conta com apoiadores fiéis do presidente e parte dos simpatizantes do ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro (Podemos), um presidenciável natimorto e que busca socorrer-se numa candidatura ao Senado pelo Paraná, onde enfrentará seu criador, o senador Álvaro Dias. Se alguém acredita na habilidade política do ex-juiz para fazer-se candidato, aposte. Mas é mais recomendável economizar essas fichas.
Há alguma opção que possa vir da chamada terceira via? No centro e à direita, estão Simone Tebet (MDB), e Ciro Gomes (PDT) – os leitores concordam que ele não se situa à esquerda, apesar de seu ideário econômico progressista? No cenário atual, os nomes com alguma competitividade para disputar com Bolsonaro o eleitor de direita são Tebet e Ciro, ainda empacados nas pesquisas, em um e sete por cento. Não ameaçam ninguém, a menos que um tufão político sacuda o país nos menos de 70 dias que nos separam do dia 2 de outubro da eleição.
As convenções, que vem acontecendo desde 20 de julho e encerram-se a 5 de agosto, não prometem nenhuma reviravolta. As vagas de vice e de senador entram na tábua de negociações de eventuais federações (que precisam ser nacionais e com durabilidade de quatro). Lula e Bolsonaro já tiveram seus nomes homologados, bem como Ciro Gomes. Simone Tebet aguarda a convenção em 31 de julho.
O Brasil prepara-se para o início da campanha com uma ameaça anotada por um ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Thomas Shannon, titular da embaixada entre os anos de 2009 e 2013, nota que Bolsonaro segue a cartilha do ex-presidente Donald Trump ao pôr em xeque o resultado das eleições. Até o porta-voz do Departamento de Estados, Ned Price, assegura a tradição e a lisura do processo eleitoral brasileiro, sem nenhum reparo, é seguro como provam mais de 25 anos de funcionamento da urna eletrônico e do funcionamento do sistema.
Outro norte-americano, o cientista político e professor de governo na Universidade de Harvard, Steven Levitsky, observa que os ataques ao Judiciário parecem ser um costume dos autocratas e o primeiro passo para tentarem perpetuar-se no poder. Levitsky é coautor do bestseller “Como as Democracias Morrem”. Seu trabalho concentra-se na América Latina e inclui partidos políticos e sistemas partidários, autoritarismo e democratização.
Se os Estados Unidos se preocupam, o que dizer dos brasileiros. Depois da fatídica segunda-feira em que Bolsonaro reuniu cerca de 50 embaixadores com assento no Brasil não se fala de outra coisa. Ainda segundo Thomas Shannon, o fato de a Embaixada ter divulgado um comunicado, seguido de manifestação do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, significa que o governo dos EUA está muito preocupado. Shannon parece ensinar:
“Acho totalmente surpreendente que um presidente, eleito por esse sistema e que chefia um governo que representa a vontade popular, coloque em questão o sistema eleitoral do próprio país. E fazer essa argumentação para uma audiência diplomática transforma o surpreendente em perigoso. Ele parece estar preparando o caminho para não aceitar o resultado das eleições”, afirmou ao jornal Folha de São Paulo.
Já o especialista em direito e estratégias de comunicação política Fernando Neisser notou, em entrevista ao site Nexo, que os dois presidentes usam métodos consagrados de comunicação política para espalhar mensagens de ódio e ataques à democracia, minimizando os riscos de processos judiciais contra si mesmos.
A inação do Presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL) e do procurador geral da República, Augusto Aras, explica a sensação de impunidade que desfruta o presidente. Bolsonaro soma mais de 140 pedidos de impeachment, um recorde comparado aos demais presidentes. Quem reclama, e muito, é a classe política que na hora de opor-se às benesses eleitorais aprovadas por Bolsonaro, votou a favor, desconfiando que as benesses podem gerar algum benefício a eles próprios.
O que disse Bolsonaro aos embaixadores
Ataques ao Judiciário fazem parte do manual de atuação de líderes de extrema direita eleitos em todo o mundo. Em democracias, são as Cortes supremas que, em última instância, atuam para conter investidas autoritárias de chefes do Executivo contra a Constituição.
No caso brasileiro, a atuação do STF e do TSE durante a gestão Bolsonaro tornou-se mais importante devido à atuação dócil de líderes do Congresso, especialmente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em relação ao presidente, em troca de um controle cada vez maior sobre o destino de verbas públicas para suas bases eleitorais, e ao procurador geral da República, Augusto Aras, que entra em férias convenientes quando é chamado a ser manifestar sobre o episódio. Crimes de responsabilidades cometidos pelo presidente da República, bem como Ministros de Estados, membros do STF, além de governadores e prefeitos, são invocados pelo titular da PGR.
Nesse ambiente, com pompa, circunstância e transmissão direta pelos canais oficiais de rádio e televisão, na segunda-feira, 18 de julho, Bolsonaro reuniu nas dependências do Palácio da Alvorada mais de cinquenta chefes de Missões Diplomáticas no Brasil.
O que ele fez e disse:
Tentou deslegitimar a autoridade do TSE para organizar as eleições e atacou nominalmente os ministros Luís Roberto Barroso, que presidiu a Corte até fevereiro, Edson Fachin, que atualmente comanda o tribunal, e Alexandre de Mores, que assumirá a presidência do TSE em 16 de agosto. Disse que os três “querem trazer instabilidade” ao Brasil ao não aceitarem as “sugestões das Forças Armadas” sobre a urna eletrônica.
O Presidente dedica-se especialmente a acusar dois ministros. Refere-se a Fachin como o ministro “que tornou o Lula elegível” e menciona Barroso como aquele que tinha sido o advogado do Cesare Battisti, que recebeu o acolhimento do Lula. Ambas acusações desmentidas pelo Ministro.
Sobre Moraes, disse que havia advogado no passado “para grupos que, se eu fosse advogado, não advogaria”, em referência a uma alegação constante no meio bolsonarista de que Moraes teria advogado para o PCC, o que ele nega. Aos diplomatas, Bolsonaro disse que, por ser o “chefe supremo” das Forças Armadas e defende que os militares tenham um papel mais ativo na formatação do sistema de votação, já que as eleições eram uma “questão de segurança nacional”.
Olívio surpreende e embola disputa ao Senado
Olívio Dutra será candidato ao Senado pelo PT. A notícia sacudiu os meios políticos entre a noite de domingo e manhã desta segunda-feira. Ao meio-dia, em coletiva na sede do partido, o partido anunciou o nome de um dos primeiros governadores de Estado eleito pelo PT no Brasil. Olívio é a novidade desta eleição no Rio Grande do Sul. Ele vai ao mesmo cargo que disputou em 2014 com Lasier Martins. Agora, encontram-se de novo, com a companhia de uma ex-senador, a radialista e jornalista Ana Amélia Lemos, que já foi senadora no mandato entre 2010 e 2018. Lasier está no Podemos e Ana Amélia é do PSD.
Ex-prefeito de Porto Alegre, ex-deputado federal Constituinte, ex-governador e ex-ministro (das Cidades, no primeiro Governo Lula), foi centro da ebulição dos petistas. No fim de semana, o ex-governador Tarso Genro, a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito Raul Pont, o ex-deputado Flávio Koutzii e o senador Paulo Paim lançaram uma “carta aos companheiros e companheiras” em defesa da unidade em torno de Pretto. Na noite de domingo, começaram a circular entre os petistas mensagens de que Olívio teria concordado em disputar ao Senado. Na manhã desta segunda-feira, líderes do partido confirmaram que ele será o candidato.
Desde o lançamento de Pretto, o PT busca atrair a ex-deputada Manoela D’Ávila, que, definitivamente, não vai disputar eleição neste ano. Especulou-se também a candidatura de Tarso, que igualmente rejeitou. Olívio chega também para pôr fim às oscilações partidárias em torno da candidatura de Pretto, que está baixo nos índices. Há quem acredite que Olívio possa impulsionar Pretto, quando o normal é o inverso, em que o governador puxa o senador.
Olívio é um velho militante. Bancário, formado em Letras, foi presidente do sindicato de sua categoria e liderou uma greve histórica, na qual acabou preso pela Polícia Federal, em 1979, tendo seu mandato sindical cassado. É fundador do PT no Rio Grande e, em 1986, foi eleito deputado federal constituinte. Em Brasília, dividia o apartamento funcional com outro constituinte, Lula Ignacio da Silva. Foi eleito Prefeito de Porto Alegre em 1986, contrariando todas as pesquisas de opinião que o colocam em último lugar. Em 2004, conquistou o Palácio Piratini
QUEM JÁ DISPUTA O SENADO
Eleição majoritária, o Senado é a galinha dos ovos de ouro da política nacional. Os custos de campanha geralmente são puxados pelos candidatos a governador. O eleito desfruta de um mandato de oito anos e visibilidade ampla.
Alguns partidos cuja convenção pode ocorrer até o dia 5 de agosto ainda não definiram candidatos, como o PDMB e o PDT. Mas há homologados cinco candidatos:
Ana Amélia Lemos (PSD)
Natural de Lagoa Vermelha, Ana Amélia Lemos tem 77 anos. Jornalista atuou em diversas empresas de comunicação, como na Rádio Guaíba, Jornal do Comércio e na RBS, onde permaneceu por 33 anos. Deixou a empresa em 2010, para concorrer ao Senado, elegendo-se com 29% dos votos. Concorreu ao governo do Estado, em 2014, e a vice-presidente em 2018, na chapa encabeçada por Geraldo Alckmin. Até março, era secretária de Relações Federativas e Internacionais do governo Eduardo Leite.
Comandante Nádia (PP)
Nascida em Porto Alegre, Nádia Rodrigues Gerhard tem 54 anos. Formada em Letras e com especialização em Psicologia Escolar, atuou como professora, mas aos 21 anos ingressou na Brigada Militar. Em 28 anos de atuação na BM, alcançou o posto de major. Em 2007, tornou-se a primeira mulher a chefiar um batalhão da BM no Estado no 40º BPM, com sede em Estrela. Em 2016, se elegeu vereadora na Capital, cargo para o qual foi reeleita em 2020, como a quarta mais votada da cidade.
Hamilton Mourão (Republicanos)
Nascido em Porto Alegre, Hamilton Mourão tem 68 anos. Militar de carreira ingressou no Exército em 1972. Em 46 anos na corporação, comandou quartéis no Rio Grande do Sul e no Amazonas, além da 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre. Atuou ainda em missão de paz em Angola e como adido militar na Venezuela. Seu último posto de chefia foi o Comando Militar do Sul, passando depois pela Secretaria de Economia e Finanças do Exército. Em 2018, elegeu-se vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro.
Lasier Martins (Podemos)
Natural de General Câmara, Lasier Martins tem 80 anos. Jornalista e advogado, atuou por duas décadas em causas cíveis e trabalhistas, em paralelo à carreira na comunicação. Teve passagens por rádios Difusora e Guaíba antes de ingressar na RBS, onde trabalhou por 27 anos, cobrindo esportes e política. Como enviado especial ao Oriente Médio, cobriu a Guerra do Golfo, em 1990. Por mais de 10 anos, apresentou o programa de debates políticos Conversas Cruzadas, na TV COM. Em 2014, elegeu-se senador.
Roberto Robaina (PSOL)
Natural de Porto Alegre, Roberto Robaina tem 54 anos. Formado em História, com mestrado e doutorado em Filosofia, foi bancário e presidiu o sindicato da categoria no início dos anos 1990. Filiado ao PT, foi dirigente do partido até 2003, saindo na diáspora que resultou na criação do PSOL, do qual é fundador e membro da direção nacional. Autor de cinco livros sobre teoria e prática política, sempre por uma perspectiva de esquerda, se elegeu vereador em Porto Alegre em 2016, renovando o mandato em 2020.