Mantendo a atenção a todos os movimentos no Rio Grande do Sul após a calamidade, uma necessidade segue, para mim, como principal: a urgência de abrirmos mão. A força coletividade tem seu alicerce na ação individual. É com atitudes cotidianas, sutis e permanentes, que tudo que todos clamam chegará mais perto da realidade.
Em poucas palavras, abrir mão é deixar a preguiça, a acomodação, de lado. São as coisas que estão ao nosso alcance que fazem a diferença. Junto a isso, as manifestações ganham peso, responsabilidade e legitimidade. A soma da individualidade e da união é imbatível, mas o peso de cada fator nessa soma não é igual. O que vai salvar a espécie é a atitude de cada um, que somada, ultrapassa os bilhões.
E ter atitude individual não é todo mundo fazer a mesma coisa. Em cada ser existe uma necessidade e uma possibilidade. O que toco ao esticar o braço só eu tenho, e em cada canto do planeta outros braços terão outros toques. Não há regra, norma ou conduta a ser distribuída, apenas a consciência que é mudando o meu mundo que o nosso mundo mudará. Cada um sabe o que tem a fazer, ou deve prestar mais atenção.
É tempo de diminuir, e depois mudar, o impacto da humanidade na terra. Pro o combustível, hora de abrir de ir a pé ou de coletivo; pra energia, viver mais no escuro (é natural) e se conformar que verão é quente e inverno é frio; pra moda, usar mais as mesmas roupas; pra água, menos plástico; pro acúmulo, reciclagem; pro desmatamento, enfraquecer a pecuária. Se não abrirmos mão do que, pelo consumismo, nos acostumamos a chamar de conforto, somos parte do problema.
Abrir mão da ganância gera frutos maiores. Quem sabe entender que é melhor mudar um projeto ou perder um emprego que derrubar um Guapuruvu, em Porto Alegre, em nome de empreendimento verde. Mas a mudança pode vir de quem compra, que vai preferir ajeitar um canto aconchegante que morar em uma vitrine. Casos abrangentes, nada individuais, mas que existem por redundância de ação de alguém. Alguém que talvez não tenha querido falar, mexer no que está posto, sair do marasmo. Crescer ou acumular não é sinônimo de evoluir.
A sacola pela caixa; o elevador pela escada; o novo pelo restaurado; o industrializado pelo artesanal; o comodismo pelo esforço; a negligência pela dedicação. Abrir mão do que, no fundo, sabemos que não precisamos, mas … estamos acostumados.
Muito que por aí ladram fazem parte da caravana. Com frequência os vejo nas rodas de bar, nas redes sociais, nas reuniões de família. Eu mesmo sou um deles. O importante é estarmos atentos a cada segundo de vida, a cada chance de cuidar, de trocar o pouco que podemos, pois é tudo que temos. É no nosso movimento aos nossos sonhos que somos percebidos e relacionados com as forças da natureza. É hora de sonhar simples e desviar, com esforço contínuos, das armadilhas que nós armamos. Eu acredito.
André Furtado é, por origem, jornalista; por prática, comunicador, de várias formas e meios. Na vida, curioso; nos Irmãos Rocha!, guitarrista. No PoA Inquieta, articulador do Spin Música.
Foto da Capa: Freepik
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