Hoje vamos falar de uma minoria oprimida há séculos, de pessoas que sofreram perseguições, que não puderam viver conforme sua natureza e foram forçadas a aceitar que nasceram em um corpo que não era normal. Sim, vamos falar daqueles que vivem entre nós e vem de um grupo que sofreu tanto: os canhotos.
O folclore cristão medieval dizia que o próprio Diabo era canhoto e batizava seus seguidores com a mão esquerda. Na Idade Média, os canhotos também eram alvos fáceis de ir para a fogueira, acusados de bruxaria, adoradores do Diabo entre outras gentilezas.
Até hoje, em vários países islâmicos, as pessoas se cumprimentam com a mão direita e a esquerda é a da higiene pessoal…
Lembremos que o contrário de canhoto é destro — quem tem destreza. Já o canhoto, em latim, é sinister. Em italiano fica sinistro, o que, veja bem, é sinistro!
Durante séculos, escrever e fazer as coisas com a mão direita foi considerado certo e fazê-las com a mão esquerda foi considerado errado. Quem era destro, era “normal”. Quem era canhoto, era forçado a se adaptar à regra vigente. A noção de que ser canhoto é “normal” não tem sequer cem anos de história.
Minha avó paterna, Clara Bliacheris, era canhota. Contava que na sua infância foi forçada a escrever com a mão direita na escola. Escrever com a mão esquerda, que era o seu natural, era considerado errado e era receita certa para punição. Ela contava isso de forma sentida, magoada.
No início do século passado, cerca de 3% da população admitia ser canhota. Hoje, sabe-se que 10% da população, em média, escreve com a mão esquerda. Ou seja, a pressão de que ser canhoto era errado e que ser destro era o certo fazia com que muita gente escondesse essa condição. Com o relaxamento dos preconceitos sociais, muitos canhotos “saíram do armário”.
Outro grupo que sofreu perseguições foram os ruivos!
No Egito Antigo, o destino de muitos ruivos era ser sacrificado na Tumba de Osíris. Pulando para a Grécia, Aristóteles dizia que os loiros eram bravos e nobres como leões e ruivos tinham o mau-caratismo das raposas.
Mas uma época terrível para ser ruivo foi a Idade Média. Judas e o demônio eram retratados como ruivos e acreditava-se que eram os preferidos de Satanás para manifestar o Mal. Já as ruivas eram caçadas pela Inquisição e as mulheres com cabelos cor de fogo corriam o risco de acabar na fogueira. Nem depois de mortos os ruivos tinham paz, pois a gordura deles era considerado um potente ingrediente para a produção de venenos.
Falar em perseguição a canhotos e ruivos soa ridículo nos dias de hoje, algo pitoresco, mas essencialmente preconceituoso e ignorante. O que me faz pensar em alguém no futuro estudando nossa época. Quantas de nossas ideias, ações e preconceitos seriam considerados absurdos e ignorantes por essa pessoa do futuro?
Foto da Capa: Kyle Miller/Pexels