Você já percebeu como tem histórias fantásticas que aconteceram nas nossas vidas? Em cada viagem acontece algo digno de ser contado. Na vida das pessoas acontecem tragédias, bem como coincidências e coisas engraçadas que dariam ótimos contos ou roteiros de filmes. Permita-me compartilhar duas que me foram contadas pelos protagonistas destas histórias e que me impressionaram profundamente.
A primeira ocorreu há cerca de 50 anos numa cidade do interior, quando uma dona de casa anunciou no rádio que precisava de empregada doméstica e logo bateu à sua porta uma mulher de vinte e poucos anos, bem-educada e disposta a morar com a família. Chamou a atenção o fato de a empregada não aproveitar as folgas para sair de casa. Com o passar dos meses começou a crescer barriga da empregada e ela confessou que estava grávida, mas logo informou que iria colocar a criança para a adoção. Chegou o dia do parto, nasceu a criança e a mãe teve uma complicação, tendo que ficar hospitalizada. A dona da casa levou a criança para casa e foi se afeiçoando por ela. Quando a mãe saiu do hospital, assinou os documentos e a dona da casa, com o coração partido, levou a criança para uma instituição que tratava de adoção.
Passado mais um tempo a empregada foi embora e nunca mais se ouviu falar dela. No ano seguinte bate na porta um senhor muito bem arrumado, e se apresenta como o pai da tal empregada, dizendo que estava tentando encontrar a filha e que soube que ela teve um bebê e que a dona da casa entregou a criança para adoção. Ele queria informações da filha e a neta de volta. A dona da casa mostrou a documentação assinada pela sua empregada e disse que não tinha como recuperar a criança. Foi então que o avô da criança confessou ser um homem rico, que morava em outra cidade, e contou que a sua filha fugiu quando suspeitou ter engravidado do melhor amigo do marido. O marido descobriu a traição, mas não desconfiou que a criança poderia não ser sua filha. Ele era um homem muito violento, matou o amigo e foi preso.
O avô da criança alertou a dona da casa que, se ela não o ajudasse a encontrar a neta, o dia que o assassino saísse da cadeia, certamente viria atrás dela para localizar a menina. A dona da casa se manteve firme, mas desde então passou a ter medo de todo homem estranho que se aproximasse dela. O relato da história acabou aqui, mas a nossa imaginação pode criar um desfecho. No seu roteiro, o pai irá encontrar a filha? E se encontrar, será que o exame de DNA irá comprovar que ele é realmente o pai? O que fará se não for o pai e localizar a ex-mulher?
A outra história ocorreu na metade do século passado, quando a pessoa que me contou era criança. Ela era filha de uma família rica e que, na mansão em que morava, existia um porão onde ela brincava com os irmãos e filhos dos vizinhos. Lá tinha um cofre muito antigo que teria pertencido a uma tia-avó que veio da Europa e morreu assim que chegou. Ninguém sabia o segredo do cofre e ele permaneceu fechado.
As crianças imaginavam que dentro do tal cofre tinha um tesouro e todo dia rodeavam o cilindro do segredo para um lado e outro. Certo dia, para o espanto das crianças, a porta do cofre se abriu. Elas encontraram lá dentro muitas roupas finas e joias. Resolveram então vestir as roupas e usar as joias enquanto brincaram que eram príncipes e princesas. Quando a mãe delas descobriu, recolheu todas a roupas e joias e colocou num saco e mandou jogar no lixo. Ela temia que a tal tia-avó teria tido contato com uma peste na Europa que a matou e que poderia ser contagiosa. As crianças foram escovadas até quase tirar o couro e nunca mais viram as roupas, as joias e nem o cofre. Quem me contou esta história disse que ela teve realizado o sonho de todas as crianças, que é o de encontrar um tesouro, mas que não pode desfrutá-lo. Nunca se soube se as joias eram valiosas ou não e se realmente estavam contaminadas. Será que estas joias foram mesmo para o lixo? Será que ninguém achou? Quem achou morreu contaminado ou ficou rico? Quanta coisa podemos imaginar para dar continuidade a esta história.
Me diga, estas histórias não são dignas de um Oscar? A vida de qualquer pessoa é muito mais interessante do que parece. Tem quem não valorize, ou não conte suas histórias, mas certamente algo interessante aconteceu ao longo da sua vida. Qual seria a sua história para concorrer ao Oscar? Se você tiver pais, avós, amigos ou outras pessoas que gostem de contar histórias, estimule-as, faz bem para quem conta, e um bem enorme para quem ouve.
“A realidade é bem melhor do que a fantasia” (desconheço a autoria).