Essa parte da música Divino, Maravilhoso de Caetano e Gil, “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, me chamou atenção enquanto assistia a série Fim, da GloboPlay (ela faz parte da trilha sonora), baseada no livro do mesmo nome da Fernanda Torres. Nela, é contada a história de um grupo de amigos homens, desde sua juventude até o fim, suas tretas e estripulias.
Na série, observei que cada amigo encara de uma forma diferente sua relação com a morte e, por conta disso, se relaciona de diferentes maneiras com a sua própria vida e as pessoas que ama. Porém, em todos existe a necessidade de demonstrar força. Aparentar que estão dando conta. Como se se bastassem, até que não. Conhece algum homem por aí que se encaixa nesse modelo?
O medo da morte é inerente de quem nasce. O como vivemos entre a primeira inspiração e a última expiração é o que fará a diferença entre os humanos. Pra viver sem se arrepender, olhar pra trás e afirmar que valeu a pena, a gente sabe que não precisa ser rico, nem famoso, nem ter carro do ano e casa bacana, viajar para destinos luxuosos, vestir as roupas da moda ou possuir o celular recém saído do forno, mas muitas vezes vivemos como se isso fosse o importante.
A Dra. Ana Cláudia Quintana Arantes, médica geriatra e paliativista (especialidade que de acordo com a Organização Mundial da Saúde consiste na assistência que “objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”), com base em seus muitos anos de experiência de trabalho nessa área, conta que os cinco maiores pesares entre as pessoas que atendeu no período final de suas vidas, foram (vídeo aqui):
Construir histórias de vida em escolhas mais baseadas a partir da vontade de outros (ou do que imagino que seja) e não nas suas vontades e/ou desejos.
Por exemplo: Essa escolha de carreira vai me dar mais dinheiro em detrimento daquela outra que é o meu sonho? O dinheiro poupado ao longo da vida é melhor eu usar para garantir um imóvel para o/a filho/a (e deixa-lo/a “seguro/a”) ou fazer aquela viagem dos meus sonhos (e parecer “egoísta?”).
Não ter demonstrado afeto quando necessário.
A raiz da palavra afeto vem de afetar, ou seja, o que nos afeta. Assim, quando tratamos de afeto estamos lidando de todo um conjunto de sentimentos e emoções que possuímos, mesmo que a gente não exteriorize. Assim, não dizer que te amo, não demonstrar carinho ou alegria para não parecer vulnerável e “bobinho” faz tanta falta quanto não demonstrar a tristeza, a raiva e o medo, pois tudo nos afeta e nos torna humanos e seres sociais que precisam uns dos outros.
Não ter ficado mais com meus amigos.
As amizades são a família que escolhemos. Elas nos oferecem sentido, acolhimento, alegria, orientação. E como não costumamos, ou não queremos, pensar sobre a nossa morte, sempre achamos que teremos tempo para encontrá-las e curtir as suas presenças. O que nem sempre acontece.
Não ter trabalhado tanto.
A não ser que você tenha encontrado no seu trabalho um propósito e sentido de vida, a grande parte das pessoas enquanto está trabalhando tem a sensação que se “desliga da vida”, como se essa parte da vida não estivesse valendo para contagem dela também. Porém, ao final e ao cabo, se o equilíbrio entre o trabalho e as demais áreas da vida não existiu, esse arrependimento vai aparecer.
Ter me feito mais feliz
Esse arrependimento é quase que um resumo dos demais. No entanto, lembrando que aqui não estamos falando de egoísmo, mas de amorosidade e generosidade com a gente mesmo. Olhar para si enxergando nossas vulnerabilidades, necessidades e humanidade.
Quando a gente consegue ter a coragem de pensar na nossa mortalidade tomamos coragem de pensar sobre como nos relacionamos com a nossa vida. Assim, silenciosamente, te convido a responder as perguntas abaixo:
- Qual o significado da morte para você?
- O que teme em relação à morte?
- Você costuma pensar/falar na própria morte?
- Você pensa na morte daqueles que gosta?
- A morte mais difícil que eu enfrentaria dentre as pessoas vivas seria a de : Porque?
- Você acha possível se preparar para a morte?
- Como você imagina viver até o dia da sua morte
E agora, gentilmente, o que você precisa para viver como deseja, sem arrependimentos?
Foto da Capa: Divulgação