“Então chamar de neguinho da beija flor também é racista… então olha que ele é negro, negro… que na escuridão só se vê os dentes brancos e nem se vê a gengiva…”
Junho de 2022… e a casa grande está ressignificada e atualizada no Brasil do século XXI com esta fala viralizando nas redes sociais. Não conheço a Zoe… mas esta fala agride e reflete a desumanização de pessoas e corpos negros em uma lógica de racismo estrutural.
Sabe por que, Zoe, é racismo estrutural? Porque você e muitos iguais a você normalizaram através da linguagem a caracterização de cor da pele como significação para a desumanização de pessoas, estereotipização e, principalmente, atribuição de sentido negativo…
Não é mimimi, Zoes do Brasil… é linguística, semiótica… segue aqui comigo que vou te mostrar… E se, pessoas brancas fossem chamadas: Ohhh branco do Leblon? Ou então aquele branquela ultrapassou em Mônaco? Não… se eu te chamar de branquela já tem tom de ofensa … viuuu, Zoes? Ou então é tão branco, mas tão branco que nem aparece os dentes? Linguagem tem sentido… linguagem expressa poder.
O poder da linguagem determina a posição social do indivíduo dentro do contexto social. Além disso, a linguagem faz uso de outros recursos chamados por Pierre Bourdieu de poderes simbólicos para enaltecer mais ainda as relações de poder.
Quer se aprofundar e entender mais? Linguagem e poder é um tema amplo e complexo. A perspectiva da legitimidade, do prestígio e da norma é o que Vivian Rio Stella explora em vídeo no YT da Casa do Saber. Vale tirar uma horinha para balizar essa conversa.
Linguagem localiza, influencia e legitima atitudes e ações sociais. E sabe porque parte da sociedade brasileira considera o questionamento da linguagem racista como mimimi? Porque historicamente a escravidão no Brasil é o único evento de longa história (+de 100 anos) onde nossa sociedade construiu uma forma de encarar as pessoas negras como desumanas e, portanto, tratadas como tal refletindo na linguagem, atos e lugar social.
A sociedade brasileira chega ao século XXI tendo a dura tarefa de se enfrentar enquanto racista, ainda se localizando em um lugar de desconstrução e negação. E deverá passar por todas as fases para chegarmos em um estágio social de reparação histórica, tal qual um processo terapêutico. E olha que ouvi esta frase de uma historiadora jovem, brilhante e judia, Laura Trachtenberg Hauser, no curso de DEI-22 promovido pela Miami ad School, Mooc e Flagx, ou seja, o mimimi não é só de quem é afetado… existe uma nova geração da sociedade brasileira disposta a enfrentar a linguagem dada e colocar a mão na mudança.
Então, Zoe e sua fala que está sendo compartilhada, já existem indicações sociais e acadêmicos que vocês estão errando e muito. E que sim: É racismo estrutural. Apenas parem e melhorem… pois como escreveu Lewis Hamilton no twitter (em português) como resposta a outra fala racista na semana, de Nelson Piquet: “Vamos focar em mudar de mentalidade… É mais que linguagem. Essa mentalidade arcaica precisa mudar e não tem mais espaço em nosso esporte. Eu fui cercado por estas atitudes a minha vida inteira. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”