O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, é mais do que uma data simbólica no calendário: é um chamado à reflexão sobre o presente e o futuro das relações de trabalho em um mundo em constante transformação. Em meio a mudanças profundas nos modelos produtivos, nas formas de emprego e nas expectativas de trabalhadores e empresas, é fundamental resgatar o verdadeiro sentido desta data — que vai muito além da comemoração e aponta para a necessidade de diálogo, respeito e construção coletiva.
Vivemos uma era em que as transformações tecnológicas, a globalização e as crises econômicas desafiam constantemente o mercado de trabalho. De um lado, vemos o crescimento do trabalho informal, que hoje atinge mais de 38 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. De outro, observamos uma crescente automatização, que substitui postos tradicionais por algoritmos e inteligência artificial. Nesse cenário, o papel dos sindicatos se renova: não apenas como defensores de direitos adquiridos, mas como pontes entre os trabalhadores, o mercado e o futuro.
O Papa Francisco, em um de seus discursos mais marcantes, afirmou: “Precisamos construir pontes, e não muros.” Essa frase, embora dita em outro contexto, nos convida a refletir sobre o atual momento das relações entre empregadores e empregados. Historicamente marcadas por tensões e conflitos, essas relações precisam ser repensadas sob uma nova perspectiva, em que sindicatos e empresas atuem lado a lado, não em lados opostos.
Isso não significa abrir mão de reivindicações ou de lutas importantes. Significa compreender que, em tempos de tantas mudanças, as conquistas só serão sustentáveis se forem construídas com base no diálogo e na corresponsabilidade. Qualidade de vida no trabalho e produtividade não são metas incompatíveis. Pelo contrário: estão diretamente conectadas.
Diversos estudos indicam que empresas que investem no bem-estar dos colaboradores observam melhorias significativas no engajamento e na retenção de talentos. Por exemplo, uma pesquisa da Gallup revelou que equipes com altos níveis de bem-estar apresentam um engajamento 21% maior e uma produtividade 17% superior em comparação com aquelas que enfrentam desafios relacionados à saúde mental. Além disso, um estudo da Deloitte apontou que organizações que priorizam o cuidado com a saúde emocional têm uma redução de 50% nas taxas de rotatividade. Esses dados evidenciam que ambientes que promovem o bem-estar tendem a ser mais saudáveis, eficientes e sustentáveis a longo prazo.
No Brasil, porém, ainda enfrentamos resistências. Após a reforma trabalhista de 2017, houve uma tentativa de enfraquecimento da representação sindical. Mas o que se observa, hoje, é que a ausência de interlocução estruturada gerou mais ruídos, insegurança jurídica e perda de referência para os trabalhadores. O sindicato é, sim, um agente de modernização, desde que compreendido como um parceiro estratégico, capaz de ajudar empresas a entender os anseios de seus colaboradores e a construir soluções viáveis para todos os lados.
Acredito que a valorização da carreira dos administradores, por exemplo, passa pela escuta ativa, pela construção de políticas salariais justas, por melhores condições de trabalho, mas também por uma aproximação com o setor produtivo, ajudando a alinhar expectativas e metas.
Neste 1º de maio, fica o convite: que possamos abandonar o velho modelo de trincheiras — em que cada lado busca vencer o outro — e adotar o modelo de pontes — em que cada parte contribui para a travessia segura rumo a um futuro mais justo, produtivo e digno.
Porque o trabalho é, antes de tudo, um ato de humanidade. E onde há humanidade, deve haver diálogo, respeito e construção conjunta. Pense nisso!
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Foto da Capa: Tânia Rêgo / Agência Brasil