Há algum tempo venho acompanhando os vídeos da educadora Ivana Jauregui, uma educadora uruguaia que vive no Brasil. Ela conta que a sua mãe criou uma escola na sala da sua casa e ela cuidava de crianças desde os 9 anos. Ivana sempre adorou crianças e tinha o sonho de ter filhos. Aos 20 anos, teve o primeiro dos seus três filhos. Vivia numa situação econômica confortável, num lugar muito agradável, com ótima relação com o marido, mas a sua vida se transformou num inferno depois que o seu filho mais velho completou dois anos e passou a ter um comportamento completamente oposto do que ela desejava. Foram seis anos de muita luta, até os seus oito anos, ela batia e xingava o filho o tempo todo. Viajou por vários países e consultou pedagogos e psicólogos e achava que o menino tinha algum problema. Certo dia, recebeu um texto que lhe fez cair a ficha. Ela percebeu que o problema era ela. Quando ela mudou a sua forma de agir, o filho mudou o seu comportamento. Ivana Jauregui criou uma escola, tornou-se uma referência no tema da educação de filhos e tem uma série de vídeos e lives no YouTube. Mas a sua maneira de educar choca muitas pessoas. Compartilho aqui alguns pontos que ela aborda:
O bebê não rouba o tempo da mãe – O lugar mais importante que uma mãe pode estar é ao lado do seu bebê. Não ache que o seu filho está roubando o seu tempo ou atrapalhando a sua carreira. Não se sinta vítima por não poder ir a uma festa para ficar com o seu bebê. Ao contrário, sinta-se escolhida para presenciar o desenvolvimento daquele ser humano que você gerou.
Creche para crianças menores de 4 anos é a última opção – Não é natural que uma criança de 2 anos se afaste dos pais. Sim, ela vai se desenvolver mais rapidamente numa creche, vai falar mais cedo, mas vai também apanhar mais cedo, adquirir uma série de problemas de saúde etc.
Período integral na escola é péssimo – O que as crianças mais precisam é de um pai e uma mãe. As crianças não nascem de uma professora. A escola não educa, ela ensina conteúdos, a educação vem de casa. Como elas irão absorver os valores e os princípios dos pais se passam o dia longe e têm poucos momentos de convivência com a família?
Pobres dos irmãos mais velhos – Eles precisam sempre ceder para os mais novos. “Dá para ela não chorar”, “deixa ele ir na frente”… O mais novo deve aprender a respeitar o mais velho, que também é uma criança. Se ele quer brincar com o brinquedo do mais velho, diga: “Você pode brincar depois que o teu irmão parar de usar”.
Não manipule os seus filhos – Muitas vezes, os pais manipulam os filhos para que eles façam o que os pais desejam. Um exemplo: o seu filho não quer tomar banho e você engana ele dizendo “com qual bonequinho você quer tomar banho, com esse ou com aquele?”, “vamos ver quem chega primeiro no chuveiro”, “vamos lá ver se a água está quentinha”… Ao manipular, evita-se o conflito e perde-se uma oportunidade de educar seu filho a fazer o que ele não gostaria. Ele não quer tomar banho e quer desenhar. Não o pegue à força e nem manipule. Crie um espaço para ele decidir ir tomar banho e respeite o tempo dele. Diga, filho, eu entendi que você não quer tomar banho e quer desenhar, mas primeiro você toma o seu banho e depois você vai desenhar. Aos poucos, ele vai entender que está escolhendo tomar o banho, mesmo sendo o contrário do que queria naquele momento, mas isso desenvolve a arte de escolher o seu comportamento para o seu próprio bem. Essa relação de respeito entre pais e filhos se constrói desde que a criança tem cerca de 2 anos. Para tanto, é necessário ter uma boa conexão e ajudar os filhos a tomarem boas decisões. Isso começa na infância e terá repercussão numa adolescência mais tranquila. Assim, a criança perceberá que a sua relação com a sua mãe está crescendo e ela se tornando mais independente. Os filhos ficam furiosos quando existe uma relação de dependência, quando os pais controlam tudo e não dão oportunidade para eles autorregularem o seu comportamento. Quando forem adolescentes, dê espaço e responsabilidades. Eles podem ajudar nas tarefas de casa, cuidar das suas coisas ou marcar a hora no dentista.
Depois que a Ivana Jauregui percebeu que o problema era ela, não se afundou na culpa, pois isso só iria piorar as coisas. Nenhuma mãe deve se sentir culpada. Ela passou a assumir a sua responsabilidade e o seu filho deixou de ser rebelde. Ela chama isso de relação espelho.
A Ivana deixa claro que o pai tem o seu papel, mas que ela fala do lugar de mãe. Ela ressalta que nós desvalorizamos a vivência e supervalorizamos os resultados. Os pais costumam querer dar aos filhos o que não tiveram, o que parece ser um ato de amor, mas não ajuda na educação dos filhos. Da mesma forma, muitas vezes transferem para os filhos os seus sonhos. O que melhor podemos fazer é conviver com nossos filhos. Nem sempre é possível, mas isto seria o melhor para a criança. Lembrei do que diz Thiago Berto, idealizador da Cidade Escola Ayni em Guaporé, RS: “Deixem as crianças em paz. Quem precisa de escola são os pais”. Ao pesquisar sobre a vida da Ivana, descobri que ela trabalhou dois anos na Ayni. Certamente não foi uma coincidência. Recomendo que você assista aos vídeos da Ivana Jauregui e conheça a Escola Ayni, tenho certeza de que vai gostar.
Referências
- YouTube - Ivana Jauregui
- Live A minha história - Ivana Jauregui
- Cidade Escola Ayni
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da Capa: Freepik