Na gíria internética, flopar significa ter pouca ou nenhuma repercussão em uma postagem nas mídias sociais. Muito comum no Twitter, o termo vem do verbo “flop”, que em inglês significa fracassar. Como toda gíria que vira popular, o flopar hoje é usado em outros contextos, inclusive para se referir a um programa de televisão com baixa audiência. É o caso do BBB 23, do qual era esperado um novo recorde de popularidade que não se confirmou.
O programa está com a menor média da história do reality show: 18,5 pontos de share do Ibope. Um dos motivos para esta baixa está no fim da pandemia. Em 2020 e 2021, com resquícios em 2022, as pessoas ainda ficavam mais tempo em casa, pois os eventos sociais estavam voltando aos poucos. Foi justamente na pandemia que o reality registrou a maior audiência da história e o começo do declínio.
O efeito Karol Conká pode estar por trás da derrocada. A edição de 2021 foi a segunda com um elenco de convidados, chamado de camarote, e outro elenco de candidatos que participam da seleção para ingressar na casa, chamado de pipoca. A cantora rapper brasileira Karol Conká ingressou como convidada para participar do confinamento como uma estratégia para aumentar a visibilidade nacional do nome e do trabalho da artista. Mas Karol flopou.
A artista teve um comportamento agressivo e polêmico na casa com os demais brothers e sisters e ganhou inimizades dentro e fora da televisão. Além disso, os canais da Karol Conká perderam milhares de seguidores, em especial, nas mídias sociais. O resultado foi que a artista conquistou um marco negativo para a história do programa: foi eliminada com 99,17% dos votos, ou seja, a maior taxa de rejeição de todos os tempos.
A consequência no meio artístico foi a pior possível. Se entrar para o BBB antes de Karol Conká significava ascensão de popularidade e visibilidade, depois da Karol passou a significar temor e receio. Os artistas cotados para o camarote declinaram dos convites, pois passaram a mensurar o ônus que no caso da Karol pesou bem mais que o bônus.
A Karol Conká recuperou a trilha da carreira um ano depois e até lançou um canal para falar sobre saúde mental, como mostrou este estudo que desenvolvi com uma aluna na Universidade de Brasília. Mas a verdade é que a artista precisou dar muitos passos para trás para poder recomeçar a caminhada profissional. E por mais talento rapper que ela tenha, a pecha do cancelamento estará para sempre colada na artista.
O elenco do BBB 23 está até sendo elogiado pelos críticos em função de representar bem a população negra brasileira, mas a dinâmica entre eles é rasa, pobre e chata. As interações se resumem a bate-boca e picuinhas. Não vai me surpreender se esta edição ficar conhecida como o BBB da fofoca. Um fala mal do outro e pouco se abordam questões macro ou comportamentais mais amplas como o cancelamento, as questões de gênero, as questões de relacionamento. Houve uma abordagem sobre um casal tóxico que repercutiu no debate da audiência como abordei aqui na Sler, mas foi fogo de palha.
Talvez a fórmula camarote e pipoca tenha flopado em 2021. Mesmo com o documentário “Depois do Tombo”, sobre a carreira da Karol e todo o trabalho de reconstrução de imagem pública apoiado pela emissora, o episódio segue vivo e emblemático. Se o programa desperta o melhor e o pior das pessoas confinadas, talvez a caixa de pandora aberta na edição de 2021 ainda esteja espalhando danos e prejuízos.
O programa que tem 23 anos de vida está às margens do precipício: é reinvenção ou morte. Se não tirar uma nova fórmula da cartola tende a ficar velho e desaparecer. O cancelamento da Karol Conká está mais vivo do que a TV Globo poderia imaginar.