Quando validamos um voto, delegamos uma parte de nossa história. A construção de nosso imaginário de governança e gestão pública surge cedo e vai mudando com o conhecimento e a experiência. E o fato é que alguém vai governar, seja meu amigo, inimigo ou total desconhecido. A escolha é sobre quem vai ter espaço no legislativo ou no executivo, já que no judiciário definem por nós.
Os motivos que levam cada um a definir seu candidato são sempre pessoais, mesmo quando votamos orientados por alguém, já que aceitamos acatar a sugestão. Na hora em que estamos nós e a urna, nada nos impede de escolher quem queremos. Há, claro, os partidos que contam a quantidade de votos em cada seção eleitoral, na manutenção da cultura do cabresto. Nestes casos, a justiça é a saída, com o suporte necessário, pois o assédio eleitoral é crime grave e mais comum do que se imagina.
Mas, como a eleição é a definição de quem governa ou legisla, há muito mais em jogo do que nossas amizades, afinidades ou ideias. As escolhas trazem consequências, e mesmo que nosso candidato não ganhe, estaremos sujeitos à definição da maioria. Pode haver controvérsia sobre se esta é a melhor forma de eleger nossos representantes, mas estamos inseridos em um meio que não nos permite alternativa. Como alguém que tem um aparelho eletrônico, internet, óculos e até tempo para ler um artigo aqui pode se eximir?
Tenho grandes amigos com os quais estou de acordo e posso compartilhar por horas as mazelas e injustiças do mundo, mas se fosse para delegar a ele uma responsabilidade sobre um bem ou mesmo um “pet” meu, talvez pensasse melhor. Enquanto há pessoas na minha vida pessoal que, por mais que discorde em visões de mundo, sei que posso confiar para questões práticas, por exemplo. Destinar nosso voto a alguém com quem concordamos no aspecto ideológico não significa que terá um bom mandato.
A responsabilidade social e coletiva deve ter um peso maior na escolha de um candidato do que nossas certezas, sempre tão pueris e voláteis. (“Para medir a ignorância, basta empilhar as certezas”, mas outra hora escrevo sobre isso). Claro que é fundamental, e bonito, ter convicções, motivos e causas para lutar. Todos temos! Só que o barco é o mesmo, vença quem vencer. Votar em quem eu gosto não significa que toda população, ou cidade, ganhará, e esse deve ser o termômetro.
Com o dia do pleito que se aproxima, use o seu voto, não deixe ele ser usado. Os parentes, chefes, colegas, amizades terão opinião e curiosidade. Mas a sós, na urna, a escolha é única e não deve nada a ninguém. Mesmo as relações partidárias não têm o direito de definir, saber ou julgar. A garantia é que cada um vota em quem quer, e ninguém deve mudar isso!
André Furtado é, por origem, jornalista; por prática, comunicador, de várias formas e meios. Na vida, curioso; nos Irmãos Rocha!, guitarrista. No POA Inquieta, articulador do Spin Música.
Foto da Capa: Antonio Augusto / ASCOM / TSE
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