Este não é um texto de celebração. Pelo contrário. É uma manifestação de raiva da burrice e da teimosia de quem se propõe popular. E que me fez anular o voto pela primeira vez.
Um mês depois da enchente, passei uma hora sendo interrompida por um homúnculo de esquerda que se autodenomina especialista político ridicularizando minha tese sobre a candidatura à reeleição de Sebastião Melo em Porto Alegre. O que ele achava absurdo era eu dizer que, com a esquerda seguindo na toada que adotou de imputar todas as desgraças da cidade ao Melo, o emedebista não apenas não perderia a eleição como ganharia com folga, porque quem elege o prefeito de Porto Alegre não é a bolha petista que ainda não entendeu que não foi Lula que ganhou a eleição, mas Bolsonaro que perdeu. Por pouco.
Fazer essa observação do óbvio, aliás, segue sendo confundido com defesa de Bolsonaro, ou da direita, o que evidencia o quanto o lulismo tem dificuldade de raciocinar estrategicamente. Desde 2014, apontar erros evidentes do lado com o qual concordamos virou motivo para sermos considerados detratores, porque ou se tem fé no partido, ou se é fascista.
Não consigo nem sequer expressar minha decepção ao ver a vibração de pessoas que tenho em alta conta com o desempenho desesperadamente pífio da candidata petista (Rosário, que tentou virar Maria, sabe Deus por quê) no debate desta sexta. De onde ela achou que angariaria votos dos indecisos (provavelmente eleitores que acumulam antipetismo e antibolsonarismo, na sua maioria) saudando Lula a cada duas falas?
Os números de brancos, nulos e ausentes são eloquentes. Sem falar na efetiva derrota dos candidatos não alinhados ao ex-presidente que os democratas não queremos ver de volta ao Planalto.
Em tempo: além da acachapante vitória de Melo em Porto Alegre, o outro foco do ódio petista durante a enchente gaúcha, o governador Eduardo Leite, também sai fortalecido desta eleição, com a reeleição de seu correligionário em Caxias do Sul e a vitória do petista Marroni com seu apoio, em Pelotas.
Se a mensagem das urnas não for afinal compreendida por quem diz não querer o Bolsonarismo de volta ao poder em 2026 e (ainda) detém capital político para combatê-lo, não quero nem ver no que vai dar.
Cássia Zanon é tradutora e jornalista, com mais de 100 traduções publicadas, incluindo autores como Kurt Vonnegut, Herman Melville, Daniel Goleman e Woody Allen. Depois de começar a carreira na RBS TV e no jornal Zero Hora, em 2000 migrou para a Internet, trabalhando como editora e gerente de projetos no Terra e no clicRBS. Em 2012, virou mãe e assumiu as traduções como atividade profissional principal. Pesquisa e escreve sobre criação de filhos, etarismo, relações humanas e o que lhe provoque curiosidade. Além de textos, tece com fios, linhas, tecidos e agulhas.
Foto da Capa: Reprodução do YouTube
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