Logo no primeiro dia do período de campanha eleitoral, a cidade já estava lotada de material com publicidade dos candidatos e partidos. Confesso que adoro assistir às propagandas nas TVs, ver os candidatos, seus bordões, estilos e, no geral, dar risadas. Mas, a despeito disso, levo esse tempo das eleições muito a sério e votar é um dos direitos que exerço com maior prazer.
Como profissional que atua na área da diversidade, especialmente no que se refere à longevidade e envelhecimento, sempre presto atenção a essas questões. Nas últimas eleições, tornou-se cada vez mais comum em programas de diferentes matizes partidários colocar propostas em defesa da mulher, das pessoas com deficiência, das pessoas negras, dos jovens, crianças, das pessoas LGBTQIAP+, etc. Na maioria apresentando respostas para os desafios de equidade e inclusão na sociedade, com propostas voltadas para mais geração de emprego e renda, emprego, educação, financiamento para empreendedorismo, infraestrutura de apoio socio econômica, entre outras. No entanto, com relação à pessoa 60+, quando ela é pautada, observo que as propostas geralmente ficam restritas a questões relativas à saúde, assistência e previdência.
Percebo nessa postura um reducionismo na visão do papel da pessoa 60+ na sociedade, como se para ela coubesse apenas o papel de “doente”, porque afinal está velha, ou de “despesa”, porque está gastando dinheiro da Previdência, do SUS… em vez de um lugar de protagonismo e autonomia no qual se precisa investir em educação, emprego, geração de renda e empreendedorismo, por exemplo. Será que não enxergam o potencial das pessoas que envelhecem? Será que isso seria idadismo? Deixo a pergunta no ar…
E é incrível, para mim, porque estamos falando da parcela da população que mais cresce no Brasil! De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil deve dobrar até 2043, passando de cerca de 14% para mais de 30% da população total. O crescimento é ainda mais acentuado na faixa dos 80 anos ou mais, que deve triplicar até 2050, refletindo o envelhecimento acelerado da população brasileira. Mas por que será esse fenômeno de descaso com relação a propostas para essa parcela da população? Se é fundamental que soluções sejam propostas para o bem-estar de todos?
No Brasil, o voto não é obrigatório para pessoas a partir de 70 anos. Além deles, o voto também é facultativo para jovens de 16 e 17 anos e para os analfabetos. Nas eleições de 2022, o eleitorado brasileiro atingiu um número recorde de mais de 156 milhões de pessoas aptas a votar, o que representa um aumento de 6,21% em relação a 2018. Esse crescimento foi especialmente notável entre os jovens de 16 e 17 anos e os eleitores acima de 70 anos, ambos com voto facultativo.
Fico a imaginar se, como o voto é facultativo, partidos e políticos não se empenham em apresentar propostas, projetos, captar eleitores idosos em suas regiões. Logo, não dão muita bola para essa parcela da população, ou dizem que dão, porque na hora do pega pra capar… Será?
O número de eleitores com mais de 70 anos aumentou em 23,82%, passando de 12 milhões em 2018 para aproximadamente 14,8 milhões em 2022. Essa faixa etária representou 9,52% do total do eleitorado em 2022. Comparativamente, o número de jovens eleitores (16 e 17 anos) cresceu ainda mais, com um aumento de mais de 51% em relação a 2018.

Esses dados podem mostrar uma tendência de maior participação de grupos etários que, apesar de não serem obrigados a votar, demonstraram uma maior consciência cidadã nestas últimas eleições.
Esse foi um movimento ocorrido nessas últimas eleições. Vamos observar como será nas eleições de 2024 e 2026 para confirmar essa tendência de crescimento entre o eleitorado dos 70+. Espero que sim, pois é sabido que a Geração Baby Boomer, nascida entre 1946 e 1964, estabeleceu novos padrões em várias esferas da sociedade, como trabalho, consumo e valores culturais, deixando um impacto profundo que ainda se faz sentir (Apesar de eu não gostar muito dessas divisões fechadas de geração, como referência acho que nos serve).
Espero que políticos e partidos fiquem mais atentos. Até quando eles ficarão sem apresentar projetos e propostas para essa população que não para de crescer e envelhecer no país?
Referências:
Eleições 2022: crescem números de jovens e idosos aptos a votar - TSE
Proporção de jovens cresce no maior eleitorado da história - Senado Federal
Eleitorado - TSE
Foto da Capa: TSE
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