No documentário que mostra a história do clássico disco Elis e Tom, está presente, calada, a figura de um dos nomes que foi protagonista de momentos decisivos da música brasileira. Trata-se do multitalento Aloysio de Oliveira.
Vamos localizar no tempo esses três artistas. Elis nasceu em 1945. Tom, em 1927. Aloysio, em 1914. O álbum foi produzido em Los Angeles, entre 22 de fevereiro e 9 de março de 1974. Dias depois do término da produção, Elis completaria 29 anos. Tom estava com 47 anos. E Aloysio chegaria aos 60 anos em dezembro.
O distanciamento das décadas entre essas três vidas mostra também uma linha de tempo da nossa música. Se Elis, com seu marido Cesar Camargo Mariano, representava a mpb se abrindo para outras sonoridades, com os instrumentos eletrificados, arranjos calcados em execuções de músicos jovens e cheios de suingue como o próprio Cesar no piano, o guitarrista Hélio Delmiro, o baixista Luizão e o baterista Paulo Braga, Tom era o triunfo da bossa nova, aclamado, mas também, de uma certa maneira, com um estilo cristalizado, de difícil abertura, como se mostrou no início, para uma troca, que, depois de vencida a sua resistência, acabou acontecendo e trazendo benefícios e aprendizados estéticos para ele e para Elis, como se pode atestar ouvindo a maravilha em que resultou o disco.
E Aloysio o que representava? Na ficha técnica, e no trabalho propriamente dito, é o produtor. Mas é muito mais do que isso. Aloysio representa, para usar uma expressão de Caetano Veloso quando falava sobre o Tropicalismo, “a linha evolutiva da música popular brasileira”. Dá só uma conferida em alguns momentos do currículo do cara.
No final da década de 1920, Aloysio de Oliveira fundou com outros músicos o conjunto musical Bando da Lua. Depois de fazer sucesso nacional, lançando 60 discos de 78 rotações, em 1939 o grupo viajou para os Estados Unidos acompanhando Carmen Miranda. Na volta para o Brasil, em 1940, gravou “O samba da minha terra”, do Dorival Caymmi, com enorme sucesso. Em 1942, Aloysio cantou “Aquarela do Brasil”, do Ary Barroso, no filme Alô, amigos, do Walt Disney.
Depois da morte de Carmen Miranda, em 1955, o Bando da Lua se dissolveu. Aloysio foi trabalhar na gravadora Odeon. Em 1959, ele foi o responsável pelo LP Chega de Saudade, do João Gilberto, o grande estopim da Bossa Nova. Em 1963, criou sua própria gravadora, a Elenco. Lançou discos de Tom, Vinícius, Baden Powell, Sérgio Mendes, João Donato, Dick Farney, Sylvia Telles e dos estreantes Edu Lobo e Nara Leão. Produziu também outro marco, o disco Caymmi visita Tom.
Como compositor, entre seus sucessos, estão as parcerias com Tom Jobim, “Dindi”, “Inútil paisagem” e “Só tinha de ser com você”. Essas duas últimas estão no álbum Elis e Tom, e a última até integra o título do documentário. Se o verso “só tinha de ser com você” vale para definir o encontro entre a Elis e o Tom, vale também para o produtor do LP. Aloysio é um dos responsáveis pela internacionalização da música brasileira. Nesse disco gravado em Los Angeles era a pessoa certa no lugar certo.
Foto da Capa: Aloysio, Tom, Camargo Mariano e Elis / Divulgação