Neste ano, outubro será mês de uma grande oferta de empregos. São 5.569 vagas de prefeitos e outros tantos vice-prefeitos e mais de 58 mil vereadores. Todas essas vagas com um privilégio que poucos brasileiros têm: são empregos garantidos por, pelo menos, quatro anos. E com direito, no final desse período, a disputar novo mandato.
E vocês viram, não é? Mal começou este ano eleitoral e alguns – que não toleram eleição – já fazem da política um caso de polícia. O Globo deste domingo, 14 de janeiro, informa que, em cidades do Rio Grande do Sul, do Amazonas e de Sergipe, dois prefeitos e um deputado federal denunciaram o uso de ferramentas de inteligência artificial para produzir e divulgar mensagens onde as vozes deles foram manipuladas para dizer coisas que eles nunca diriam.
Nos áudios, as vítimas do golpe aparecem como se estivessem atacando professores e servidores municipais em geral. Estão chamando essas adulterações de áudio e vídeo de deepfake. Eu prefiro chamar de vigarice eleitoral…coisas desse pessoal que se apresenta como crítico dos políticos e faz a pior política.
Então prepare-se. Na guerra de falsidades, desinformação, preconceitos generalizados em que estão transformando a política – não só aqui no Brasil, diga-se – você terá um trabalhão para escolher seus candidatos nesta eleição. E na próxima, na seguinte e assim por diante.
E ainda vai precisar de bom discernimento para decidir quem fala a verdade: o denunciante, ou o denunciado? É… porque pelo andar das negociações no Congresso Nacional, talvez a gente chegue ao dia da eleição sem uma regra de controle do uso das redes sociais e das ferramentas que a tecnologia disponibiliza, diariamente, sem distinção, para os bons e os maus…
Para quem, por acaso, não leu a notícia, as denúncias envolvem candidatos em Manaus, Crissiumal (RS) e Lagarto (SE). Na capital do Amazonas, o prefeito David Almeida (Avante), candidato à reeleição, teve a voz trabalhada com ferramentas de Inteligência Artificial numa gravação onde os professores são chamados e vagabundos e os funcionários da prefeitura são acusados de quererem “um dinheirinho de mão beijada”. O prefeito fez a denúncia à Polícia Federal.
Em Crissiumal, o prefeito Marco Aurélio Nedel, do bolsonarissimo PL, acusa a oposição de manipular a voz dele num áudio em que os servidores públicos são classificados como “gente com pouco estudo, analfabeto (sic), já ganha demais”. Segundo O Globo, no áudio – falso, de acordo com Nedel – o prefeito também diz: “Vou falar de aumento em 2024. Depois, vamos levando na conversa, entendeu?”
A terceira denúncia – de muitas que, lamentavelmente, virão até o dia 6 de outubro – é do deputado federal Gustinho Ribeiro (Republicanos), marido da prefeita de Lagarto (SE), candidata à reeleição. Gustinho diz que o áudio em que ele aparece atacando adversários é falso e foi produzido por Inteligência Artificial.
Enquanto deputados e senadores conversam em busca de uma legislação que atenda a todos lá no Congresso (e nós torcemos para que nos sirva também), o TSE – para susto e desgosto dos políticos – promete editar uma resolução que proíba a falsificação de sons e imagens e dê às plataformas a responsabilidade de tirar do ar os conteúdos criminosos.
Aliás, nisso o Brasil inova. Aqui, a cada eleição, apesar de todas as leis existentes, é preciso publicar resoluções dizendo, simplesmente, que ninguém pode cometer crime.
Os recrutadores dos futuros ocupantes dessas quase 70 mil vagas somos nós, 160 milhões de eleitores. E, hoje, o eleitor não é mais aquele ouvinte passivo. Os últimos quatro anos foram de muito aprendizado para quem vive neste Brasil.
O tempo de falsidades e desinformação impunes ficaram lá no 8 de janeiro de 2023, quando a maioria empurrou para longe aquele trem do vandalismo e da depredação onde alguns, levados por falsos e até hoje escondidos líderes, embarcaram. Para os males da política, eleição é o melhor remédio. Os bons políticos – e a maioria é boa – sabem disso.
Foto da Capa: Agência Brasil